Uma crônica pra relaxar...
Onde está a minha língua?
Eu perdi a minha língua. Onde está a minha língua? Ela, que é tão minha quanto minha identidade, sumiu.
Recordo – me agora que decidi tentar alguma novidade, e fui testar uma nova língua. Quis saber como se fala utilizando a língua alheia. E perdi a posse daquela que até então me era leal companhia. Onde está a coitadinha? Decerto morrendo de frio em um canto obscuro de algum centro binacional que freqüentei. Quero – a de volta. Se alguém encontrar, por favor, dê – me um feedback (Ops! Não era isso que eu queria dizer).
Esta expressão adquirida, feedback, me acompanha a todos os lugares, desde que troquei de língua. Hoje entrei em colapso nervoso. Precisei traduzir o tal feedback e não consegui. Não sei mais falar: “por favor envie – me uma resposta”, por que sempre sai: “me manda um feedback, please!.”Se o problema estagnasse aqui, seria ótimo, mas não, ele persegue – me como a sombra que está sempre às minhas costas.
Aquela que me colocou no mundo, todos os dias me interpela com uma interrogação. Para cada questionamento feito eu solto um “I dunno”. Logo um “I dunno”. Se fosse um “I don´t know”, vá lá. Mas “I dunno” é a prova concreta do vício. Só ocorre quando a língua está devidamente instalada na cavidade bucal do orador e convidando as amiguinhas para um jam and bread.
Portuguesa, onde está você? Estou longe dela e ela distante de mim.
Enquanto procuro, milhares de jeans e hot – dogs dividem a rua comigo e me convidam para um papo. Sai pra lá tentação! Não posso perder tempo, tenho que achar a luso – brasileira antes que algum yankee apaixone – se e resolva levá – la embora.
Lembrei! Lembrei! No último local em que tentei a permuta, tomei um analgésico chamado “Colonization”,para evitar a dor da troca. Fiquei meio zonza, atordoada e respondia tudo positivamente. Vai ver me interrogaram sobre a vontade de abandonar a que foi colocada desde criança e eu disse “yes”.
Voltei ao local, e na porta do tal centro eu gritava: No!!! No!!! I want it back. Give my mother tongue back!!!!! E um loirinho, com sotaque arrastado, usando a minha própria língua, dizia: “só se assinar o acordo”.
Que agreement? Eu quero a pequenina de volta! Sinto saudades dela, e só nela posso experimentar isto. Nenhuma outra consegue expressar a saudade com todas as letras que esta tem. Quero minha língua!!!! E não vou esperar até 2003 para tê – la de volta.
Quem é o dono disto aqui?