A primeira vez que ouvi falar em A Hora da Estrela foi num dos festivais de teatro que aconteceram em Recife há alguns anos atrás. Era uma noite chuvosa e eu fui com meu pai. O espetáculo intercalava a história com a palavra do narrador, no caso Clarice Lispector, representada brilhantemente por Araci Barlabarian. Lembro de ter saído da peça embasbacada com o sofrimento da jovem Macabéa, personagem em torno de quem a história gira. Nunca esqueci a cena em que ela é dispensada pelo amor de sua vida. Foi a coisa mais grotesca que ouvi na minha vida, era algo mais ou menos assim:
- Macabéa, entenda, você é que nem mosca na sopa.
- Como assim?
- Não dá vontade de comer.
O queixo foi ao chão. Meu pai ao lado percebeu a perplexidade com que eu assistia aquela cena. Ele ficou meio constrangido. Eu não. Não estava constrangida. Estava sem ação. Imaginei alguém – seja homem ou mulher – ouvindo algo deste tipo. Deve ser muito doloroso! Mas, enfim, o tempo passou. Anos mais tarde, quando tínhamos um grupo de leitura - que só funcionou durante alguns livros - alguém deu a sugestão de ler Lispector. Topei. Sabia que ouvira falar dela em algum lugar, porém, não liguei diretamente a estória de Macabéa. Quando comecei a ler o livro, me angustiei. Em primeiro lugar, a escritora se mostra maçante em determinadas partes da obra, quando prolonga – se demais em conversa com o leitor, para só depois retomar a trama – diga – se de passagem que o narrador não é ela, Clarice Lispector coloca outra pessoa em seu lugar. Porém, o livro tem uma magia tão absoluta, que os momentos maçantes dele ficam a margem, acabam por não interferir na estória. É impossível não envolver – se no universo criado pela escritora, é simplesmente impossível! Tanto me deu uma vontade doentia de ler o livro e não estou encontrando o meu exemplar! Aí, meu Deus! Deu-me vontade de ler! De sentir o coração pulsando de novo, seja com o que for!

Mas mesmo com vontade de ler Lispector, não achei mesmo o livrinho, então, fui ler Neruda! Estava procurando coisas sobre o poeta e encontrei um blog de uma garota com o mesmo nome que eu, Ana Paula, cujo endereço é macabeah.blogspot.com. Deixei um recado no site dela perguntando se o “macabeah” era uma música ou se tinha a ver com A Hora da Estrela. A garota respondeu dizendo que tinha a ver sim. Deu-me vontade de conversar com ela sobre a obra, saber o que ela achou. Nem lembro direito o comentário do pessoal a respeito da estória. Lembro apenas que um amigo me disse que A Paixão Segudo G.H. era excelente! Acho que vou tomar uma overdose de Clarice Lispector nestas férias...