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sexta-feira, janeiro 31, 2003

O duelo dos talheres...

Hoje é aniversário do gaúcho Marcelinho. Pense num cara que nasceu com o talento de lidar com as palavras circulando nas veias. Parabéns, anjinho!!!
Ontem lembrando do aniversário dele, e conversando com algumas pessoas na fila de matrícula da faculdade (na qual eu fiquei por seis horas e meia) lembrei de algo que me aconteceu quando visitei o sul do País.

Chegamos pela manhã em Gramado, e saímos para andar pela cidade. Era janeiro, e ninguém esperava que a temperatura fosse cair na serra gaúcha – coisa de quem não conhece mesmo a região. Se bem que para boa parte dos nordestinos, uma temperatura menor que 18º já é motivo para andar agasalhado. Recife é uma cidade que as temperaturas dos ônibus com ar-condicionado variam de 21º a 25º.
Mas voltando a Gramado. Nós circulamos pela cidade tranqüilas durante o dia. Quando retornamos, umas cinco horas, sentimos que o tempo estava começando a esfriar e assim foi até que não havia ninguém do lado de fora dos chalés e já havia sinal de que acordaríamos com neblina.

A questão é que onze horas da noite bateu fome e ninguém tinha sequer um biscoito – éramos eu, minhas duas irmãs e uma colega nossa. Decidimos pedir um lanche em algum local da cidade. A recepção do “hotel – chalé” forneceu o telefone, ligamos e pedimos quatro sanduíches. Gente! Quando chegou, tomamos um choque, depois choramos de rir durante uns dez minutos até que alguém teve coragem de fazer algo. Os sanduíches eram do tamanho de um prato de almoço. Um só era suficiente para nós quatro, porque pedimos a opção que vinha com salada, molhos e todos aqueles apetrechos culinários de todo bom sanduba. Aqui em Recife quase não existe algo daquela magnitude, só o Boca Maldita, que se você come um no almoço não precisa nem jantar. Pois bem, além dos sanduíches terem vindo daquele tamanho arrebatador ainda tinham vindo com garfo e faca descartáveis acompanhando. Não entendi. Guardei o garfo e a faquinha e usei o sistema tradicional mesmo. Cortei-o em quatro partes e comi um dos pedaços usando um guardanapo. O que sobrou foram as refeições do dia seguinte.

Quando chegamos em Porto Alegre a cena se repetiu. Pedimos um sanduíche na lanchonete e o garçom trouxe o garfo e a faquinha. Olhei pra o pobre do alemão com uma cara de quem tinha uma interrogação enorme na testa. Ele se limitou a dar um sorrisinho e saiu – porém, desta vez o sanduíche veio em um tamanho moderado. Alguém deve estar se perguntando se eu não tinha sacado que as pessoas podem comer sanduíche com garfo e faca. Eu desconfiei que de repente poderia ser um costume local (tu confirmas isso, Marcelinho? Eu nunca perguntei a nenhum gaúcho se é costume comer sandubas com garfo e faca aí no sul), mas não me arrisquei a perguntar. Apenas dispensei os talheres novamente.

Quando chegamos em Foz do Iguaçu, eu peço um hambúrguer no hotel e o garçom me vem com dois pratos. Um deles com uma banda do pão e as saladas e no outro, a outra banda do pão com o hambúrguer e o molho, e, é claro, os talheres. Eu passei uns cinco minutos olhando pros pratos sem saber o que fazer. Achei que o garçom estivesse gozando com a minha cara. Juro. Minhas irmãs e amigas riam que nem loucas. Eu não estava achando graça alguma, porque de repente não me via comendo sanduíche de garfo e faca.

Olhei pro garçom e pro dono da cafeteria do hotel e perguntei com todas as letras: “vocês se importam se eu comer o meu sanduíche pelo método tradicional?”. Eles riram e disseram: “não”. Eu agradeci de todo coração. Juntei as duas bandinhas de pão e comi meu hambúrguer feliz, e morrendo de rir do garçom que simplesmente se debruçou no balcão do bar para olhar a cena. Eu devia estar patética comendo aquilo. Mas enfim, melhor ser patética comendo algo do jeito que você sabe que ser patética e desastrada usando talheres para duelar com um pobre sanduíche.

Eis que hoje de manhã eu vou a faculdade confirmar minha matrícula e como não havia tomado café fui em uma cafeteria super charmosa que tem no Shopping Boa Vista. Pedi um café expresso, bolo de macaxeira e um pãozinho italiano, que parece um sanduíche, só que menor. A garçonete traz o café, o bolo e me traz o pão recheado num pratinho. Adivinha o que veio no pratinho no pão? Sim. Isso mesmo. Talheres!!! Talheres!!! Não acreditei!!!. Não, eles não eram para o bolo. O pratinho do bolo veio com seus devidos instrumentos prateados. Olhei para o pãozinho e pros talheres, eles olharam para mim. O pãozinho estava sorridente, mas o garfinho e a faquinha já estavam fazendo biquinho de tristeza pela minha testa franzida, e eu decidi que hoje, pelo menos hoje, não iria brigar com o meu karma. Degustei o pãozinho com os talheres. Até que não foi ruim...e finalmente a odisséia que começou lá no sul cumpriu seu destino.