Pesquisar este blog

segunda-feira, fevereiro 17, 2003

Será que é tudo isso em vão???

Há algumas horas atrás eu estava entristecida. Estava pensando em uma frase do Nelson Rodrigues em que ele dizia: “O ser humano já fracassou”. A frase diz respeito à forma como as pessoas começaram a destruir umas às outras com a maior naturalidade. Um dos irmãos mais velhos de Nelson morreu assim. Gratuitamente. Uma morte que não era pra ser dele. Mas a mulher que atirou, disse: “Vim aqui para matar Mario Rodrigues ou qualquer um dos filhos”. Matou Roberto. Sem piedade.

Pensando na frase rodrigueana comecei a recordar de outras coisas que me fazem pensar que o ser humano realmente anda fracassando. Desde que entrei na faculdade de jornalismo comecei a conviver com uma garota que se sente incomodada com a minha existência e o próprio incômodo dela me incomoda. Ela anda fazendo questão de frisar aos quatro cantos que eu quero ser melhor que todo mundo. Tudo isso porque eu resolvi ajudar o pessoal da minha sala mandando textos para o grupo de discussão e tenho uma postura de incentivar o pessoal a ler mais e a ser mais atuante na busca de material que possa enriquecer a vida profissional deles.

Lembro que uma vez ela levantou da mesa em que estávamos com tanta violência que ia derrubando uma coca-cola em cima de uma colega nossa. Quase gritando, disse que não queria contato comigo para não ser influenciada, e que a faculdade ensinaria o que ela precisava saber. Neste dia eu me choquei. Voltei para casa pensando em nunca mais abrir a boca em sala de aula e muito menos mandar texto algum para ninguém. Pouco depois, ouvi alguém comentando que o fato de eu escrever para um site como o Rabisco, estando no segundo período do curso, incomodava algumas pessoas.

Neste momento, eu comecei a pensar que as atitudes que temos perante o mundo são definitivas no nosso crescimento ou fracasso como seres humanos. Recordo que sempre que alguns dos meus amigos jornalistas me mandavam material pra ler, eu devorava tudo, independente do que fosse. Sempre dava uma resposta e procurava discutir com eles os textos que recebia. E o mais engraçado é que nunca me neguei a receber qualquer coisa por achar que eles queriam me ensinar, e nem sequer pensava que eles estavam demonstrando uma atitude superior à minha pessoa. Ao contrário, sempre achei que o fato deles pararem um tempo para separar e me enviar material demonstrava um carinho, um cuidado, um incentivo que poucas pessoas têm. E confesso que dou até muito trabalho a eles com as milhares de perguntas que eu faço todo dia. Rodney, Marcelo Xavier, Marcelo Toledo, Luiz Patolli, Marcel Nadale. Coitados...Qualquer dia eles levantam uma bandeirinha branca com a mensagem “Aninha, paz!!!”...

Então, é aquela história, quando a gente recebe amor tende a repassar amor aos outros. Ingenuamente, eu tentei fazer isso com o pessoal da minha sala. A sensação que eu tenho é que não deu certo. O pior é que a sensação não veio através de pressentimento e sim de um choque direto mesmo. Se bem que algumas pessoas gostam! Uma menina que trancou a faculdade, chegou a me pedir para não deixar de enviar os textos pra ela. No entanto, a garota de quem comecei falando está pior. Há quem diga que eu não deva me importar. Mas não consegui ainda parar de prestar atenção no comportamento humano, e confesso que a atitude dela é a cada dia mais recorrente entre as pessoas. Acham que o fato de alguém querer trocar experiências é porque está querendo mostrar superioridade. O pior é que, mesmo que elas precisem, se negam a aprender algo novo só para não dar o braço a torcer. Não consigo entender...

Haymone entende de música infinitamente mais do que eu; Larissa sabe coisas sobre o movimento punk, sobre literatura feminina e sobre pós – modernismo que é de tirar o chapéu; Pérola dá aula pra quem quiser sobre cultura popular e Rachel e Carol escrevem poemas tão bem que já receberam propostas de publicação. Todos eles são mais novos do que eu. Todos eles estudam no mesmo curso, praticamente na minha mesma sala, e eu ouço atentamente todas as vezes que eles abrem a boca pra falar. E acho lindo! Acho lindo que eles sabem bem sobre alguma coisa e se esforçam sempre para absorver novos conhecimentos sem soltar estilhaços em ninguém. Sem interromper a aula para dizer que os outros acham que são isso ou aquilo. Quando ninguém acha nada. Quando tudo o que se quer é trocar conhecimento, é aprender em conjunto.

E é isso que me magoa. Ver alguém abrir a boca pra criticar as pessoas que têm iniciativa, porque querer descobrir tudo sozinho e não querer admitir que chegou a algum lugar por que foi ajudado. Se eu pudesse colocava o nome de todo mundo que me ajudou na minha placa de formatura (Rapaz!!! boa idéia...). Meus amigos podem continuar me dizendo para não me importar, mas eu me importo, porque isso é também um tipo de assassinato. Assassinato das boas intenções. Assassinato da interação humana. Sem piedade. Um incentivo a que todos busquem seus caminhos calados, sem dividir nada com ninguém. Mas ainda há salvação! Eu fui salva pela minha consciência de que não estava fazendo nada de errado. Se eu tivesse parado, provavelmente não teria construído uma semente e não teria ouvido da menina que estava nos deixando “Por favor, continue me mandando os textos, que eu adoro ler”.

O que me deixa feliz no meio de tudo isso é ver que eu estou cercada de gente super especial, que eu não poderia ter amigos melhores, sejam da área ou não, e que ainda acreditam no mesmo que eu. Que vale a pena investir nos outros, mesmo que a gente chore de vez em quando.

P.S – O povo do Atalaia acha que eu esqueci deles. Esqueci nada!!! Nem deles, nem da contribuição que eles deram pra eu chegar até aqui. Amo todos!!!