Um certo descompasso (parte 1)...
Hoje pela manhã eu conversava com um amigo pela internet a respeito de uma frase do clássico de Saint Exupéry O Pequeno Príncipe. A frase diz “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Na cena, a raposa e o principezinho conversam a respeito de amizade. O príncipe encontra-se visivelmente decepcionado pela descoberta de que existem rosas similares a que ele possui em seu planeta, e está prestes a acreditar que a sua rosa é mais uma no universo, quando a raposa o adverte que a rosa que ele possui é única, principalmente pelo valor que ele atribui a ela.
A frase, que sempre me causou encantamento, hoje me deixou desnorteada. De repente, não mais que de repente, comecei a ter a sensação de que não estou cultivando o que cativei. Por que cultivar significa não apenas ter dedicação, mas também ponderar a quantidade de dedicação. Uma planta não morre apenas por falta de sol, água e fertilizante. Se estes elementos estiverem em excesso, ela também pode vir a perder a vida.
Creio que não estou sabendo medir estes elementos. Se por um lado alguns amigos, esta semana, choramingaram um contato mais freqüente. Por outro, estou tendo a sensação de não estar deixando espaço para outros. Procurando-os freqüentemente. E as pessoas precisam ter seu tempo, também. Não que alguém tenha reclamado de excesso de atenção. Mas sabe quando você sente? Pode até ser engano, mas como até agora nada andou provando o contrário...
O mais interessante nisso tudo é quando a gente sente que os outros querem dizer que o excesso de atenção está incomodando e não têm coragem. Alguém pode me perguntar como sei disso. Diria que é porque já aconteceu outras vezes. E isso me deixa com sérios questionamentos na mente a respeito das relações de amizade. Queria tanto poder conversar abertamente com meus amigos. Não que eu não faça isso, mas queria que a recíproca fosse verdadeira. Queria ser informada quando estou em falta ou quando estou me excedendo. Por que, para mim pelo menos, isso faz uma diferença enorme. Primeiro porque posso saber até que ponto minhas sensações de estar incomodando os outros são verdadeiras ou apenas suposições. Segundo porque em caso de erro da minha parte, eu saberei o que precisa ser consertado. O pior é quando você pergunta e a resposta ou não vem ou vem em forma de “depois a gente conversa”. E a conversa nunca chega...e os dias vão passando...a angústia vai aumentando...você começa a não fazer nada direito. Tem gente que convive normalmente com esta espera. Eu não sou uma delas, sinto muito.
Esta semana uma colega veio me perguntar se eu estava chateada com ela. Assustei-me. Disse a ela que não, que minha cara feia era de cansaço mesmo, e conversamos a respeito disso. Contei-lhe que se estivesse chateada, ela seria a primeira a ficar sabendo, pois tenho horror a coisas mal resolvidas. Mesmo quebrando a cara, e escutando o que não quero, prefiro sentar e conversar sinceramente a ficar com aquela sensação angustiante de que algo estranho está acontecendo...