Acho que já comentei neste espaço que um dos meus filmes preferidos é Sociedade dos Poetas Mortos. A primeira vez que o vi estava inaugurando minha adolescência – quando fui expulsa da sessão infantil da Biblioteca Pública Estadual por ter ultrapassado a idade máxima permitida.
A sala dos adultos estava lotada. Eu era a única coisa pequena do local. Sentada no corredor, bem em frente à tela, vi aquele filme e saí muda. Algumas pessoas saíram assim pelo desfecho de Neil Perry. Eu por causa da solidão desesperada da qual tomou-se a alma de Todd Anderson.


Os amigos Neil Perry e Todd Anderson
Perdi as contas de quantas vezes o vi, de quantas vezes chorei, de quantas vezes me senti em profundo processo de análise a respeito de tudo o que o permeia. O Carpe Diem, a fidelidade aos ideais de vida, o sentimento de amizade, o sentar e dividir os sorrisos, as lágrimas e os projetos de futuro. Acredito que muito do romantismo e da inocência de vida que eu carrego dentro de mim vem deste filme.
Engraçado que não havia ligado o filme à época romântica até ler este site, que faz um paralelo entre o romantismo e o realismo no filme. Está em inglês, é uma pena, porque há um trabalho belíssimo de descrição da atitude de cada um dos garotos em relação ao enfoque no romantismo da vida, proposto pelo mestre Mr. Keating.

O mestre Mr. Keating
Porém, uma coisa fundamental dentro do filme, é que embora Keating possua um lado romântico, ele alerta aos garotos para que este não se sobreponha a realidade. É um sonhar com os pés no chão. É manter uma chama de esperança e de encantamento pela vida, mesmo que ela se mostre pedregosa.
É claro que este é um processo extremamente difícil, principalmente se considerarmos a realidade de vida das pessoas que vivem no meio destas guerras petrolíferas, santas, urbanas, rurais. Mas no fundo, se continuamos aqui batalhando é porque algo dentro de nós nos diz que um dia as coisas podem ser diferentes, e mesmo que morramos sem conseguir nosso objetivo, pelo menos houve um objetivo.

Como diz, novamente, meu amigo Marcel, uma das coisas que move o mundo é o What If...ou seja, o “E se?”. A esperança, a possibilidade, o acreditar em algo, a fidelidade a algum plano ou perspectiva de vida. Todd Anderson entendeu isso, a linha tênue que separa o sonho da realidade, que é onde Mr. Keating propõe que estejamos. Nem vivamos apenas de sonho e nem somente de realidade. Que o sonho e a realidade caminhem em paralelo e nós entre os dois.
O Captain, My Captain, escreveu Walt Whitman...
O Captain, my captain diz o choroso Todd Anderson a Mr. Keating, antes que este feche a porta...

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Mas comentando sobre os poetas mortos, encontrei alguns anos atrás um site, que não existe mais, em que havia alguns poemas daqueles que participaram deste clube. Um deles, Sir William Alexander, Earl of Stealing (1567-1640) escreveu os versos abaixo para a sua amada. A tradução que fiz não ficou muito boa, porque não conheço o poeta tão bem a ponto de entender o que ele quis dizer exatamente. Mas coloco esta tradução assim mesmo, para que vocês tenham, pelo menos, um pouco de noção do que significa. Se alguém conseguir fazer uma tradução melhor, pode me enviar que eu alegremente colocarei aqui, certo?
Madrigal
When in her face my eyes I fix,
A fearful boldness takes my mind;
Sweet honey love with gall doth mix,
And is unjustly kind.
It seems to breed,
And is indeed
A special pleasure to be pined.
No danger then I dread:
For though I went a thousand times to Styx*,
I know she can revive me with her eye,
As many looks, as many lives to me;
And yet, had I a thousand hearts
As many looks, as many darts,
Might make them all to die.
Madrigal
Quando em sua face meus olhos eu fixo,
Um impulso destemido toma minha mente;
Doçura amor e ódio se misturam
E é injustificadamente aceitável
Parece em desenvolvimento,
E está de fato
Um prazer especial a ser estabelecido
Não há perigo que eu tema:
Ainda que eu vá mil vezes ao inferno,
Eu sei que ela pode reviver-me com seu olhar
Tantos olhares serão tantas vidas para mim
E ainda assim, terei eu mil corações
Que a tantos olhares serão tantas flechadas
Que certamente a todos matarão
* Styx
Estige: rio, no inferno da mitologia grega.
Não sei se aqui poderia entrar alguma coisa do tipo, chegar ao fundo do rio, afogar-se, chegar ao fundo do poço...alguém poderia sugerir algo?