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quinta-feira, outubro 23, 2003

Momento de Luto...

Não sei...mas às vezes acho que nasci na época errada. O mundo anda tomado de atrocidades que eu não consigo entender, aceitar...

Um vizinho e amigo foi morto por espancamento aqui mesmo no nosso condomínio. Ele havia tido um atrito com o neto de um morador novato tempos atrás e foi convidado a ir a uma festa na casa desse pessoal. Durante a madrugada, o rapaz começou a falar mal dele e ele foi perguntar o que era. Não deu outra: o moço juntou os colegas e espancou nosso amigo até ele perder a consciência.

Nenhum dos anfitriões pediu socorro. Quando o levaram para casa, desmaiado, não disseram ao irmão dele que ele havia sido espancado. O irmão, pensando que ele estava bêbado, deixou-o “dormindo”. No dia seguinte, a empregada chegou e o encontrou expelindo sangue pelo ouvido. Traumatismo craniano. Ele foi socorrido pelo corpo de bombeiros, operado, mas não resistiu. Faleceu, aos 30 anos de idade, por um motivo que poderia ter sido resolvido com uma conversa, mas que o seu interlocutor procurou resolver com irracionalidade.

Essa é a única palavra que pode traduzir essa atitude: irracionalidade. Ninguém, em sã consciência, consegue conceber que alguém seja morto dessa maneira covarde apenas por não dividir a mesma visão de vida de outra pessoa. Isso também é uma questão social, à medida que muitos meninos são criados dentro da teoria do provar que é homem. Quando eles levam isso realmente a sério acabam trazendo um rastro de dor para quem quer que cruze seus caminhos.

A família dele está em pedaços. O pior é a menina que foi sua noiva durante anos e com quem ele estava ensaiando um recomeço. Gente, vocês já viram alguém perder o ser amado? É a coisa mais angustiante da face da terra. A dor que eu vi nos olhos daquela garota nos últimos dias é tão abissal que o universo inteiro não seria maior que um grão de areia dentro do vácuo em que parece estar a alma dela. Uma luz apagou. O olhar está tão opaco que todo o consolo que a gente tem para dar a alguém no mundo acaba se esvaindo diante da magnitude daquele sofrimento.

Eu não consegui dizer nada a nenhum deles ainda. Quando olho para ela, para o irmão dele e para a minha própria irmã – que era muito mais próxima dele do que eu – minha boca cala. Não consigo emitir um som. Apenas baixo a cabeça e fico junto. De onde estou dá para ver o porta retrato de madeira e vidro triturado que ele fez para minha irmã. Parece com as pirâmides do Egito. É lindo! E só de lembrar do esforço que ele estava fazendo para garantir uma certa estabilidade para propor casamento à menina me dá uma tristeza absurda e uma revolta. A gente parece estar voltando para o tempo das cavernas...