Histórias de Gentes e Anjos
Bom, espero não ter falado disso aqui ainda. Tanto tempo de blog e a gente acaba esquecendo algumas coisas. Em meados do ano passado, eu estava em uma livraria de Recife e encontrei, perdido na prateleira, um livro chamado 13 dos Melhores Contos de Amor da Literatura. Peguei o exemplar e li o conto do Caio Fernando de Abreu na loja mesmo, em pé, mas fiquei paquerando o livro. Imagina? Um livro com um nome desses devia ser um escândalo de bom.
Pouco tempo depois, no meu aniversário, recebi o livro de presente de um senhor da oficina de literatura com a dedicatória “Para a sonhadora Ana, que gosta de ler”. Quase morri de felicidade. Imagina? Receber um livro desses de presente de aniversário, porque a pessoa viu o livro e achou que era a sua cara...muito legal!
Não comecei a ler o livro logo. Demorei uns bons meses. Guardei para quando algo na minha alma dissesse “Leia isso, agora!”. Uma bela noite isso aconteceu. Todos os contos são arrebatadores. Uns eu tinha vontade de chorar. Outros eu ria muito. Alguns mexeram sensivelmente comigo...
Foi bom reler Marina Colasanti, que na minha infância e adolescência foi muito importante; ler a Lygia Fagundes Telles e Machado de Assis, que depois das neuroses fortíssimas de Dom Casmurro e O Alienista fez um conto de amor digno de deixar o coração palpitando por diversos dias. No entanto, um conto, em especial, tem me deixado a pensar até hoje. É da Lya Luft – apesar de tudo o que têm dito dela – e se chama Histórias de Gente e Anjos.
Esse conto, na verdade, não é conto sozinho. Ele é parte integrante de um livro chamado Histórias do Tempo – que eu quero comprar – e mistura escritos, poesias e é construído em cima de duas personagens, ou melhor, em cima de uma mulher cujas vozes interiores – e, talvez, opostas – dão a idéia de que duas personagens, duas mulheres, alteram suas funções dentro dela.
A mulher da rotina, do cotidiano familiar tem voz em Medésima. A mulher que transgride essa vida diária, e sonha com outras possibilidades, outros mundos e outras pessoas, tem voz em Altéria. O texto escolhido para o livro de contos é uma das entradas em cena dessa segunda personagem e, além de muito belo, é perturbador – pelo menos, para mim foi. No entanto, o que tem ecoado dele até hoje, em todos os sentidos, é o poema que Lya escreveu e que inicia o “conto” no livro. Ele diz assim:
Tenho medo da dor de tua ausência
que me queima por dentro.
E da ternura eu tenho medo, dessa
beleza das noites secretas
Quando chegas
sempre como se fosse a única vez.
Tenho medo de que um dia queiras
cessar esse rio de águas ardentes
onde mais do que corpos
tocam-se as almas,
anjos desatinados luzindo no breu.
(Doce Medo – Lya Luft)
Eu não tenho uma relação muito confortável com poemas, pois, quase sempre eu esqueço ou não sinto mais nada quando leio pela segunda vez. Esse é diferente, até hoje meu coração emudece quando eu o percorro do começo ao fim.