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segunda-feira, outubro 31, 2005

- o mundo não é a casa do amor?

Eu estou cada vez mais convencida de que as pessoas deviam ler o texto Ninguém pode saber que você ama, escrito por Nelson Rodrigues e lançado no livro O Óbvio Ululante. Quem me deu uma cópia dele foi o Marcelo e desde o dia em que li nunca esqueço daquelas palavras. O texto me deixou naquele estado de susto que faz alguma coisa dentro da gente mudar. Desde então, sempre que eu vejo uma relação desabar por interferência externa me lembro daqueles escritos.

É muito triste observar as pessoas reclamando que teu amor é desocupado, que não faz nada para melhorar, que você deve arrumar sua vida e deixá-lo para trás. Conheço uma pessoa muito especial que está passando por esta experiência. O pior é olhar dentro daqueles olhos negros e ver que, embora esteja seguindo os conselhos que estão sendo dados, ela não quer. Ela não quer que aquele amor acabe. Então, por que diabos tem que terminar? Por que ela não pode ter a chance de tentar construir algo a partir de um fragmento de relação? Estou quase chegando nela e dizendo: olhe, você acredita nisso? Se acreditar, de verdade, não escute conselho nenhum. Nenhum.

Agora, não vamos nos iludir. O contrário também acontece. Há amores que sucumbem, justamente, porque tem gente demais querendo que dê certo, e não param de perguntar “e ai? foi? deu certo?”. É muito incômodo ter que ficar fazendo relatório do que andou e do que não andou, para prestar contas de uma suposta competência sua em segurar, a seu lado, alguém que todo mundo acha que é “a sua cara”. Muitas vezes é mesmo, você concorda, inclusive. No entanto, isso não significa que a sua relação é uma peça de teatro, em que as pessoas podem se acomodar na platéia e observar o seu desempenho a cada cena.

O mais angustiante de tudo o que Nelson Rodrigues descreve no texto é justamente a sensação de que não existe liberdade quando se fala em amor. As pressões negativas e positivas, que são depositadas em uma relação, acabam tirando o direito de escutar a própria intuição e decidir o que se quer fazer; ou pior, acabam confundindo até as idéias que estão sendo elaboradas dentro de cada um. Muitas vezes tudo o que você quer é ficar do lado da pessoa, andar com ela pelo mundo, sem ter a obrigação de fazer mais nada além disso. Amor também se constrói assim.