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domingo, janeiro 01, 2006

esconderijos do tempo...

Muita gente começou o ano colocando no Orkut aquele poema de Carlos Drummond de Andrade, Passagem de Ano, que diz:

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão

Eu diria que me sinto muito feliz com estes outros dias que virão, mas também com os dias que passaram e me trouxeram boas lembranças. Um belo dia, conversando com Jackson pelo Orkut, eu me dei conta de que ele foi o meu primeiro amigo. Primeiro. Aquele. Número 1. O começo de tudo. A primeira vez que, mesmo sem saber o significado da palavra amizade, eu tive uma.

Nos conhecemos no pré-escolar, aos quatro anos de idade. Eu achava a escola o lugar mais divertido do mundo e eu acho que ele nem tanto. Eu adorava quando meu pai me deixava no portão, e ele fazia o possível para não ficar. Então, em um desses momentos, papai me disse: “Ana Paula, pegue na mão dele e leve o garoto para a sala”. Jackson, branquinho feito um copo de leite, o cabelo bem pretinho, agarrado nas grades, enquanto eu tentava soltar as mãos dele para levá-lo para a sala.

É claro que os meus quatro anos de idade não me davam forças suficientes para desatar aquele primeiro laço familiar. Então, vendo que eu não conseguia soltar Jackson do portão, o pai dele chegou junto, pegou as mãos dele e me deu. Eu segurava na mão dele dizendo “vamos, venha”, enquanto ele esticava o braço para o portão chamando pelo pai, derramando lágrimas por todos os poros.

Ainda lembro do meu próprio pai dizendo que se eles ficassem ali a gente nunca iria entrar. O pai de Jackson olhou com um ar meio indeciso para o corredor, fez um aceno com a mão e se foi. Nunca esqueço o grito de “nãaaao” que ele deu. Não sei se eu conseguiria ir embora, mas acredito que os pais fazem isso para nos obrigar a dar um passo adiante.

Esta cena se repetiu algumas vezes, até Jackson se acostumar com a escola, e nestas de acompanhá-lo para a sala surgiu a minha primeira amizade. Estudamos juntos até a oitava série, quando ele foi para o CEFET (antiga Escola Técnica Federal) e eu fui para um colégio religioso cursar o segundo grau. Ele foi cursar engenharia química, eu engenharia civil. Ele terminou e está morando em Santos. Eu estou terminando jornalismo e continuo na Veneza Brasileira, e a gente se fala pelo MSN de vez em quando.

Fiquei pensando no quanto é bonito conviver com a nossa primeira amizade por tanto tempo. É claro que houve uns hiatos consideráveis nas nossas vidas. A gente precisa conversar muito mais para saber que caminho cada um de nós seguiu, ao longo destes anos. Contudo, fica sempre aquela lembrança boa, de uma época em que foi possível construir algo que eu acho tão importante.

Então, é por isso que começo o primeiro dia de 2006 lembrando da minha primeira amizade, porque ano novo não significa apenas iniciar projetos novos, mudar tudo, mas dar continuidade a coisas que nos são caras e significativas.

OBS – Beijão para Jackson, Deyse, Fabiana, André, Mariazinha, Jorginho, Andressa, Alessandra e Helô (que jura que eu esqueci dela!).

OBS 2 - O título deste post foi tirado de um livro de Mário Quintana.