Narizinho e a Cultura Digital...
Quando li o comentário, na postagem anterior, de que minha querida amiga Colombina havia abandonado o Candongas e ingressado no Reino das Águas Claras, quase tive um surto. Primeiro, porque Reinações de Narizinho é meu livro preferido da Coleção Monteiro Lobato. Depois porque a própria Narizinho é uma das minhas personagens preferidas, embora todo mundo fale da Emília.
A boneca de pano faz muito sucesso por ser considerada a “esperta”, a “que resolve tudo”, mas Narizinho é uma personagem muito mais instigante: ela semeia mistérios. É dona dos segredos e dos silêncios. Por isso é que eu fico meio danada quando vejo essas adaptações do Sítio do Pica-pau Amarelo, e a menina de Monteiro Lobato sendo reduzida a uma simples “garota de Nariz Arrebitado”, sem qualquer detalhe a mais que possa instigar a imaginação das crianças.
A nova adaptação, por exemplo, foi tão modificada para se encaixar na “rotina de uma criança contemporânea” que Dona Benta tem Internet em casa e a Cuca não faz medo nem no meu sobrinho de um ano e três meses. Fico boba ao lembrar que, lendo as histórias de Lobato, eu tremia e meu estômago revirava aterrorizado quando a Cuca aparecia. Quando observo em tudo o que aquela obra se transformou...sinceramente...que lástima!
Deixo meu abraço a minha querida amiga Colombina, pela boa lembrança dos meus dias de criança e pela vontade que deixou de reler As Reinações de Narizinho.
Debate...debate...debate...
Amanhã começa o seminário Cultura Além do Digital, na Fundação Joaquim Nabuco. Confesso que estou bastante ansiosa para ver os resultados das discussões. Não apenas porque estou envolvida em diversos projetos virtuais que trabalham com a divulgação da cultura, como o Rabisco e o Boivoador, mas, também, porque quero ver se este evento vai trazer algo mais específico sobre o tema.
Quando as mesas redondas aparecem com títulos muito genéricos, eu fico com medo de estar diante de mais um grande panorama. Isso não invalida o encontro, é claro. Há pessoas que vão estar diante da temática pela primeira vez e, para elas, certamente será uma grande descoberta. Contudo, nas últimas palestras que eu freqüentei sobre tecnologia e comunicação, o papo não passava de “precisamos criar estratégias para usar melhor a tecnologia a favor da disseminação cultural”.
Ninguém aparecia com exemplos de projetos em andamento ou sugestões. A coisa continuava na interrogação “o que vamos fazer?” ou na afirmação “precisamos fazer!”. Não aparecia uma viva alma com um “estamos fazendo”. É isso que eu quero: contatos, troca de experiências, diálogos. Estes dias eu conheci o Brasil Wiki, que é um projeto virtual de comunicação em que qualquer pessoa pode se cadastrar e enviar notícias de onde estiver.
Aqui em Recife, o Boivoador.com tem uma estrutura similar. A diferença básica é que, embora o usuário possa colocar notícias no Boivoador sempre que quiser, nós atualizamos a primeira página apenas uma vez por semana, porque a capa ainda é feita em html. No Brasil Wiki, o sistema gera uma atualização automática, então, é possível ver as últimas notícias à medida que elas são colocadas no ar. Um dia, se o cosmos quiser, nós conseguiremos implantar essa tecnologia por aqui, também.
Além do Brasil Wiki e do Boivoador, outros projetos legais nesta área são o Overmundo, largamente conhecido e divulgado, e o Ohmynews que é Coreano, mas possui uma versão em inglês.
No mais...
No mais, pode parecer estranho que no começo deste texto eu critique o fato de Dona Benta ter internet e depois esteja toda envolvida em projetos de cunho virtual. A questão é que a obra de Monteiro Lobato tem nuances suficientes para atrair o público infantil, sem precisar apelar para esses recursos de “identificação de rotina”. Não é colocando a rede na casa de Dona Benta que o público-infantil-antenado-com-o-mundo-vitual vai ficar grudado na TV.
O perfeito Castelo Ra Tim Bum é a maior prova disso. Nino nunca precisou de internet para criar um vínculo com o público, e ainda ganhou de presente muita discussão, comunidades, fóruns e artigos no mundo virtual. A rede não precisa estar presente nos programas para que eles sejam debatidos através dela. E, sim, isso pode soar mesmo como purismo da minha parte, mas como leitora de Lobato, eu prefiro que as crianças conheçam o universo que ele propôs sem artifícios. É muito mais desafiador e instigante.
Um bom começo de semana para vocês. Depois conto mais dos projetos e descobertas novas...