Pesquisar este blog

sábado, maio 05, 2007

Retratos do Mercado 3...

Acho que vou mudar o nome deste blog para hiatos. Estou quase me convencendo de que a dinâmica dele parece ser esta (risos). Enfim, voltei com boas notícias, pelo menos. Hoje, ocorreu a terceira edição do projeto Retratos do Mercado. Desta vez, passamos cerca de três meses fotografando o Mercado da Encruzilhada para fazer a exposição que durou o dia inteiro em uma das áreas de alimentação do local.

Quando conseguimos montar todo o varal fotográfico, vimos que os integrantes ultrapassaram as 120 fotos propostas e o número de imagens exibidas chegou quase a 150. Josivan Rodrigues, que ainda não havia feito registros do mercado, levou uma máquina Polaroid, realizou fotos experimentais na hora, e colocou em exposição. O resultado foi muito legal e a resposta das pessoas, também.

Tanto os comerciantes quanto as pessoas que circulam no mercado de maneira freqüente ficaram entusiasmados com a mostra fotográfica. A gente nem havia montado o varal ainda e as pessoas chegavam na mesa para mexer nas fotos, querendo mostrar a um e a outro. Foi preciso pedir várias vezes que eles, por favor, deixassem para ver as imagens quando tudo estivesse montado - até para não estragar a surpresa. Ainda assim, uma vez aqui outra ali, o pedido precisava ser refeito.

Quando tudo estava pronto e montado, nós é que vivenciamos a surpresa ao constatarmos que a qualidade das nossas fotos havia melhorado muito. Todo mundo ficou admirado de como a equipe se desenvolveu desde a experiência no Mercado da Boa Vista, em janeiro. Outros fotógrafos, que acompanharam a exposição anterior, também fizeram comentários similares e isso deixou o grupo muito feliz. É ótimo quando a gente investe em algo que gosta e percebe que o projeto está nos ajudando a amadurecer.

Além disso, foi muito bom ver os visitantes do Mercado da Encruzilhada procurando as pessoas do Paspatu para saber mais informações sobre o projeto, quais mercados haviam sido fotografados anteriormente, os planos para o futuro ou como conseguir algumas das imagens exibidas. Sem contar que os depoimentos dados pelas pessoas que foram fotografadas, nestes três meses, são de fazer qualquer um chorar. Lindos! É bastante recompensador.

Contudo, neste mercado, especialmente, nós sentimos uma mudança, também. Antes, a preocupação maior do grupo era com as pessoas que estavam sendo retratadas. Ou seja, a edição estava sendo feita, mesmo que inconscientemente, para fazer os comerciantes e transeuntes felizes. Não era aquela foto de porta-retrato, mas eram imagens que eles se viam em poses bonitas. Desta vez, contudo, nos preocupamos mais em mostrar imagens legais do local, mesmo que as pessoas aparecessem de costas, meio borradas ou não aparecessem.

Este resultado se deu porque conversamos bastante sobre o nosso papel. Este projeto não começou para mostrar o cotidiano dos mercados públicos? Então, era isso que deveria ser feito. Acredito que a boa resposta que tivemos nesta exposição foi fruto da liberdade que nos demos, também. A escolha das imagens, entre as mais de duas mil produzidas, foi muito difícil, mas acredito que valeu a pena.

O único ponto um pouco complicado do processo foi que, no final da mostra, houve um pequeno tumulto na hora de distribuir as fotos para as pessoas. Para as fotos que havia pessoas ou personagens antigos do local, a prioridade era dos fotografados. Então, eu precisei conversar com uma visitante e pedir duas fotos que ela havia pego porque os fotografados queriam ter as imagens para eles. Este foi o combinado com o pessoal do mercado e nós precisávamos cumprir.

Eu acho que a visitante ficou um pouco chateada. Eu fiquei arrasada em ter que pedir as fotos de volta para ela e explicar a situação. Contudo, naquele momento, com as pessoas junto de mim me pedindo as imagens, eu precisei fazer aquilo. Depois, eu até procurei a moça para que ela escolhesse outras fotos, mas não a encontrei mais. Fiquei super triste. Não queria que isso tivesse acontecido. Enfim, espero que ela entenda...

No mais, o resultado do dia foi bastante positivo. A exposição rendeu algumas boas notinhas na imprensa, as fotos ficaram legais, os fotógrafos estavam felizes, e as pessoas compareceram, mesmo debaixo de uma chuva torrencial que assola o Recife desde o começo da manhã. Além disso, houve outro evento paralelo ao nosso que trouxe mais gente ao local: um forró e uma degustação de cachaça promovida por um dos bares do Mercado da Encruzilhada.

O legal é que estas pessoas que chegaram para o outro evento ou para fazer compras viram o nosso trabalho e nós saímos desta vivência com mais gente interessada no projeto, algumas até querendo realizar parcerias. Uma coisa muito boa. No entanto, o melhor de tudo foi ver os pais, amigos e amores dando a maior força nesta nossa terceira exposição coletiva. É muito importante ter pessoas que a gente ama junto nestas horas, principalmente porque para realizar um projeto como este, além dos gastos, nós também sacrificamos uma parcela interessante de tempo longe deles. Então, compartilhar os bons resultados nestas horas é muito significativo.

Para mim, em especial, foi muito legal perceber a diferença existente entre o Mercado da Encruzilhada e os demais que fotografamos. Ele tem duas realidades: uma que é freqüentada pela classe média local - que reúne diversos eventos ao longo do mês – e outra que fica mais na periferia do mercado, onde as pessoas se reúnem para tomar cerveja ao som de Waldick Soriano, Odair José, entre outros cantores. Quando se entra neste outro espaço é que se percebe como ele é labiríntico e cheio de possibilidades. Foi uma experiência ímpar.

Porém, nada se comparou a ver um dos meus fotografados dizer que não queria levar a foto para casa. Ninguém entendeu. Tanta gente querendo as fotos, todo mundo elogiando a foto dele e o senhor me disse bem calmo que não queria, não fazia questão. Não iria esperar até o final do dia para receber a foto e nem eu precisava deixar com ninguém. É claro que deixei o mercado com uma interrogação e, também, não deixei nenhuma outra pessoa ficar com a foto. Trouxe comigo para lembrar deste momento de “fora fotográfico” e para continuar a me perguntar por quê?



















Imagem 1 - Minha foto-convite =)
Imagem 2 - Encruzilhada - Adauto Jr.
Imagem 3 - Compras - Claudia Jacobovitz
Imagem 4 - Pé - Ana Lira (eu mesma!)
Imagem 5 - O Outro Lado - Ana Lira
Imagem 7 - Por quê? - Ana Lira

* Batizei a foto dele de "Por quê?". A interrogação continua =)