Fogo e Pão
Quando eu era um pouco menor – é que não consigo lembrar se tudo começou na infância ou na adolescência – os meus pais costumavam participar de umas reuniões animadas com uma turma que se intitulava Grupo do Fogo. É claro que o tempo passou, meus pais se separaram, outros casais também, alguns dos velhos amigos faleceram (como nosso eterno e querido Tio Alberto) e, em um desses momentos de angústia, uma das antigas integrantes sugeriu que as pessoas voltassem a se reunir.
Ontem, ocorreu o primeiro encontro. Entre a geração dos filhos que costumavam participar das reuniões, apenas eu e minha irmã mais nova estávamos presentes. Do grupo original, nem todos estavam, também, mas o resultado foi muito legal. Eu conheci a obra de um poeta da Geração 65 chamado José Mario Rodrigues. Pelo que consta a historiografia, ele não tem parentesco com Nelson Rodrigues e nasceu em 1944 na região agreste de Pernambuco. Eu gostei do que li, em especial um poema do livro As Rédeas da Solidão, de 1933, chamado Seca.
Toda poesia serve para nada
Minha solidão pesa nada
O brilho da Ursa Maior reflete nada
O sol disseca as vísceras
Só a fome é plenitude
E rodando pelas estradas de barro vermelho
a voz do menino:
“- Mãe, no céu tem pão?”