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sexta-feira, outubro 26, 2007

Parece Letra de Choro...

Estava comendo um sanduíche natural bem confortável com um amigo, enquanto a minha família estava ouvindo belas canções à beira do Capibaribe, quando me deparo com uma garotinha, de mais ou menos seis anos, deitada em uma lona plástica, bem coberta e com uma sacola cor-de-rosa colocada perto do poste que servia de encosto para a sua dormida.

Fiquei chocada com a cena e passei os olhos para ver se encontrava alguém responsável pela garotinha, uma vez que nesta cidade criança perdida (ou abandonada) existe aos montes. Olhei para um lado e para o outro e nenhum sinal de algum parente da menina. Busquei a câmera, fiz duas fotos e me pus a procurar por alguém que tivesse algum indício de informação.

O fiscal da Prefeitura tomou um susto porque ninguém parecia ter visto a menina deitada naquele local. Então, eu perguntei a alguém em uma banca de refeições ao lado se a menina estava deitada ali há muito tempo. De uma maneira meio fria, o senhor respondeu “a mãe dela está aqui dentro trabalhando e avó é aquela que está ali fora”.

Apesar do alívio de ter encontrado alguém que estava junto com ela, eu confesso que fiquei bastante chocada com o fato de não existir na redondeza um local melhor onde aquela criança pudesse descansar. Fui conversar com a avó para me certificar de que era parente mesmo, e ela me disse que a garota sentiu sono, não havia outro lugar para dormir, então, eles estruturaram uma cama improvisada com o que tinham e onde tiveram condições.

Embora não discorde de que eles se viraram como puderam, o choque com a imagem da menina deitada não passou. Talvez, por conta do susto inicial de pensar que ela poderia estar perdida e ficou naquele local porque estava movimentado, assim teria alguma proteção.

Enfim, a questão é que eu continuei fotografando a festa, as barracas e aproveitando a luz que estava fazendo uma silhueta bonita nos cobertores da garota. Porém, um dos senhores que estava junto com a família falou algo e meu amigo comentou que eles passaram a me olhar meio desconfiados.

Como a minha única preocupação era encontrar a pessoa responsável pela criança, eu fui conversar com a avó dela e aproveitei para saber se ela conhecia duas meninas que também moravam na mesma região. A senhora me disse que lembrava que eu havia participado de um curso de fotografia na escola em que ela trabalhou. Por um lado, foi bom porque ela me conhecia, mas por outro, ainda assim, ela ficou meio cismada.

Esse mundo em que a gente vive, hoje, está tomado pela desconfiança. Que coisa mais triste...