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domingo, maio 05, 2002

E há tempos o encanto está ausente...

Eu andava achando o meu blog meio triste. Os últimos assuntos sempre tratavam de perda e dor. Eu vinha evitando escrever nele por não queria passar esse sentimento constante de tristeza. Mas eis que hoje me bateu um estalo sobre algo que eu sempre me questionava: por que se tem tanto medo de mostrar as pessoas que se está triste?

Por que as lágrimas são sempre escondidas? Por que sempre recebemos conselhos para não deixar que nos vejam chorar? Por que sempre a melancolia é vista como sinônimo de fraqueza? Será que existe alguma explicação histórica ou cultural pra isso? Não sei.



O que eu sei é que hoje estava escrevendo uma carta para uma pessoa que eu tenho um carinho enorme. E a carta ficou muito aguada, então fiquei na dúvida se mandaria ou não. No entanto, logo depois escrevi uma mensagem para um amigo sueco, e a ele eu falei abertamente sem ter medo de ser mal interpretada ou de que ele se afastasse de mim. E aí me veio o segundo estalo: por que temos pânico de mostrar o nosso lado melancólico para quem amamos?

Fico pensando nas pessoas que eu conheço. Nas vezes que eu escutei delas que elas não queriam que seus namorados, amantes ou “casos” as vissem chorar, ou ficar tristes, por que poderiam pensar que elas eram depressivas e se afastar. E é até esquisito, por que as primeiras pessoas que deveriam estender as mãos quando estamos tristes são aquelas a quem amamos, por que confiamos nelas, não?

E mergulho em questionamentos. Por que utilizar artifícios para criar um falso ambiente de felicidade, quando estamos realmente morrendo por dentro?

E sou tomada pelo último lampejo de lucidez com relação a esse aspecto e me pergunto: será que é válido investir em uma relação, seja lá de que for, amizade, amor, profissional, o que seja, com pessoas a quem não podemos confiar nossa verdadeira identidade? E será que é válido fingir o tempo todo só para não estar só? Quem se engana mais: nós mesmos ou os outros?



Medo da rejeição?

Essa foi a conclusão que eu cheguei. Medo da rejeição. Medo da perda. Medo do abandono. Medo de ter, vinculados à nossa pessoa, todos os tipos de adjetivos tristes que se pode receber. Resta apenas perguntar se vale a pena mentir pra si mesmo. Vale a pena?

Todos esses questionamentos me passaram pela cabeça nessa última hora. Eu estou muito triste, realmente triste. Mas a certeza que eu tenho dessa tristeza é a mesma de que em breve ela será parte de um passado, como várias outras fases foram. E que com certeza no futuro, eu mesma vou poder abrir essa página e contar, com a mesma franqueza com que falei sobre essa tristeza, um momento de sublime alegria.

E se alguém estiver se perguntando o motivo desse estado de falta de alegria. Confesso, não sei. Lembro – me apenas de ter perguntado a um amigo um tempo desses por que ele andava tão quietinho e ele me respondeu: “Querida, há dias em que as coisas simplesmente não se encaixam”. E eu acho que é isso.