O tópico da semana, em uma das principais listas de discussão de cultura do país, é Ética Jornalística. Acho o assunto em questão particularmente interessante, não só referente à área jornalística, como para qualquer outra profissão ou segmento social.
Lembro – me das discussões calorosas que eram travadas por alguns alunos do curso de engenharia, quando eu ainda me aventurava na área de exatas. Quase sempre os veteranos nos acusavam de idealistas e de não entender como as coisas aconteciam, porém, o que se percebe é que vidas têm sido tiradas por falta de ética e responsabilidade na construção de edifícios, onde podemos citar como exemplo clássico o caso Sergio Naya, que por sinal teve o caso abafado e esquecido pela opinião pública, menos por quem viveu o terror daqueles momentos de angústia, onde blocos de concreto, água e areia de praia despencavam levando consigo histórias de vida, e vidas propriamente ditas, tirando dos que ficaram todo o sentido que havia para estar aqui neste mundo.

Quando lembro disso, me recordo de um filme que me deixou boquiaberta, e que eu chamei a atenção das minhas amigas que estavam entrando na área de jornalismo, e que, hoje, por ocasião da minha aprovação no curso de jornalismo, decidi ver novamente. Trata – se de O Informante (The Insider, USA - Al Pacino – Russel Crowe).

O filme relata a história de um jornalista (Pacino), responsável por um dos programas de maior audiência na televisão, o 60 minutos, da rede CBS. Ele recebe um dossiê em suas mãos e ao buscar um consultor, que possa esclarecer o que está escrito nos documentos, conhece o químico Jeffrey Wigand (Crowe) recém demitido de uma empresa de tabaco e ameaçado pela empresa com um sinistro contrato de confidencialidade. As quase três horas de filme são de um suspense psicológico doloroso, pois o expectador acompanha a destruição da vida de Jeffrey Wigand, por este ter decidido quebrar o seu contrato de sigilo para que a opinião pública pudesse saber quais os males que a nicotina e os aditivos do cigarro podem causar ao organismo humano.
Depois de ser ameaçado de morte, perder a esposa, a guarda das filhas, a tranqüilidade e ter sua vida completamente devastada, o químico recebe a notícia de que a entrevista que concedeu à rede CBS, e que ocasionou toda essa reviravolta, não será transmitida por que a rede sofreu uma ameaça da empresa de tabaco em que o mesmo trabalhava e entre não colocar a entrevista no ar e ser vendida, a rede escolheu a primeira opção.

É aqui que o papel do jornalista Lowell Bergmann se torna essencial. Ele, que conseguiu trazer o químico até a rede e convencê – lo a dar a entrevista, decide lutar para manter a integridade da sua palavra, e consegue virar o jogo, desmontando todo um esquema sórdido de mentiras preparado para destruir a imagem do químico, e colocando a rede em que trabalhava em situação complicada, por esta não ter sido capaz de investigar os fatos, apurar a verdade e manter a edição do programa que causou o desmantelamento da vida de sua fonte (Jeffrey Wigand).

O fim é sempre hollywoodiano – tudo dá certo – porém as considerações de Bergmann no final do filme são de deixar qualquer um de cabelo em pé. Ele coloca que até aquele momento ele havia cumprido com a sua palavra, e que depois que a CBS colocou em situação difícil uma pessoa, que havia sacrificado sua estrutura de vida, para dar mais audiência ao programa, não havia mais sentido para ele continuar lá. “O que eu vou dizer às minhas fontes de agora em diante? – Ok, vamos lá, tudo vai dar certo?. Talvez. O que foi quebrado aqui não pode mais ser concertado”.
E não pode mesmo. A vidas das pessoas que perderam tudo no Rio nunca mais será a mesma, como a vida de Jeffrey Wigand e Lowell Bergmann – que é uma história real – também nunca mais foi a mesma depois daquele episódio.
Como também nunca mais será a mesma a vida de qualquer pessoa, ou instituição, que seja prejudicada pela falta de ética de alguém, qualquer que seja a circunstância. Se quisermos um exemplo bem quentinho temos o caso do jogo Coréia X Espanha, vergonhosamente apitado por um árbitro egípcio hoje. Se a Fifa e as organizações competentes fossem realmente éticas e prezassem pela boa imagem do futebol teriam anulado o jogo e marcado uma nova partida. Mas esse é mais um caso que será discutido incansavelmente pelas próximas semanas e depois esquecido pelo resto da sociedade.
Histórias como estas acabam sempre virando folclore, e a falta de ética continua sendo transmitida de uma obra à outra, de uma rede de tv à outra, de uma copa à outra. E assim caminha a humanidade, dominada por instituições que ascendem financeiramente e decaem moralmente, provocando um verdadeiro colapso nos valores humanos, que agora agonizam sem muita perspectiva de salvação.

- Estou ficando sem heróis. Homens como você estão ficando raros – diz Bergmann
- Homens como você também – responde Wigand
Nós também estamos ficando sem heróis, sem pessoas que acreditem que a palavra vale mais que o dinheiro, que a fama, que uma massagem no ego. E eu fico aqui me perguntando: quem roubou nossa coragem?
Imagens: UOL, Site Oficial do Filme The Insider e Manifesto Palace II