Eu nunca fiz questão de ensinar nenhum tipo de grupo específico. Alguns professores de inglês não gostam de ensinar adolescentes, outros gostam de ensinar apenas aos adultos e há aqueles que preferem dar aula às crianças.
Mesmo não tendo preferência, tenho que admitir que ensinar crianças é sempre mais prazeroso. Elas estão sempre bem dispostas, perguntam tudo, se interessam, e são fontes constantes de surpresas. O que torna qualquer aula dinâmica.

Hoje eu estava lendo um texto que o Marcelinho me mandou chamado SABOR DE ARCO – ÍRIS, de Martha Medeiros. Nele, ela retrata uma das melhores experiências de sua vida: ela foi chamada para falar sobre leitura aos alunos da sala da filha dela de 6 anos, um maternal. De forma entusiasmada, Martha nos coloca dentro de um universo onde não existe censura, nem vergonha. Ela conta que foi quando entrou foi observada por vários pares de olhinhos e que quando a professora questionou quem tinha alguma pergunta TODOS os alunos levantaram as mãos. Essas variavam de: “por que os seus livros não têm desenhos?” até “qual o seu chiclete preferido?”. Ou seja, uma variedade imensa de assuntos foi abordada pelos pequeninos deixando a autora maravilhada.

Acredito que qualquer pessoa, que tenha a chance de se ver no meio de crianças, em uma situação semelhante também se sentiria participando de algo singular. Porém, o texto da Martha me chamou a atenção para um outro prisma da questão, e este trata dos adultos. Fico aqui pensando que aquele professor que consegue despertar em alunos adultos o gosto pelo aprendizado por prazer, e não por necessidade, deve se sentir da mesma maneira peculiar, não?
Ensinar adultos é tão desafiante quando ensinar crianças. Em primeiro lugar por que eles estão sempre com pressa, querem sempre aprender tudo ao mesmo tempo, têm um grau de expectativa lá em cima, e são devastadores quando o professor não atende os seus questionamentos de forma direta e objetiva. Acreditem, eu já passei por isso, eles são verdadeiros soldados em guerra, não poupam ninguém.

Então, é um verdadeiro trabalho de artesão mudar a mentalidade de pessoas nesse panorama de alerta, onde elas se assemelham ao coelho branco de Alice no País das Maravilhas, que está sempre atrasado e com pressa “é tarde, é tarde, é tarde!!!!”. E é esta pressa que as faz perder o melhor do aprendizado, que é a construção do conhecimento, que é acompanhar os passos da sua própria evolução, verificando cuidadosamente o quanto se cresceu em determinado período; tendo consciência das estratégias que utilizou para superar determinados obstáculos, analisando e respeitando o próprio ritmo. Sem pressa, sem agonia, sem destruir suas próprias chances e nem manchar a carreira de quem está lá na frente, lutando para dar o melhor de si, a quem nunca acha que está suficientemente bom.

É difícil, por isso mesmo eu continuo afirmando que quem consegue despertar em grupos adultos o amor, a dedicação pelo aprender, tem o céu nas mãos e talvez nunca tenha se dado conta disso.
Quando eu falo isso, imediatamente me recordo de Agnes, ela foi uma colega do curso de inglês, íamos fazer a prova do Michigan. Ela era uma senhora de idade, uma pessoa magnífica, e uma excelente professora de inglês. Quando soube que ela foi homenageada pelos seus colegas do Senac – Recife pela sua competência, senti meu coração se encher de felicidade. Ela é uma assumidade em sala de aula. Confesso que quando eu crescer, e tiver meus 30 anos de ensino de inglês, quero ser que nem ela: simples e competente. Ela é uma das pessoas que consegue o tipo de milagre que eu me referi acima, fazer uma turma de adultos olhar um processo de aprendizado com outros olhos. É lindo!

E por isso eu fico rindo quando vejo meus colegas dizerem que dá muito trabalho ensinar crianças. Não dá, por que você tem meio caminho andado em mãos. As crianças já são motivadas por natureza, precisamos apenas ajudá – las a desenvolver suas habilidades.
Dá muito mais trabalho retirar dos adultos seus vícios, suas amarras, aquela bola de chumbo de 100 kilos que eles prendem aos próprios pés para resistir a uma nova iniciativa, mas não é algo impossível. Lembrando disso, acho que foi por este motivo que criaram o ditado: “não se ensina novos truques a velhos cães”. Na minha opinião, esse ditado deve ter sido criado por alguém que, na verdade, não estava com a mínima vontade de fazer esforço, por isso tachou os adultos de “imutáveis”.

Não acredito que os adultos sejam imutáveis, só acho que nós, que já saímos da infância, deveríamos nos dar uma chance de vez em quando de sentir aquela paixão por aprender algo novo, ter curiosidade, buscar, ir atrás, dividir conhecimento.
Eu mudei muito como aluna depois que comecei a ensinar, e mudei muito como professora depois que voltei para uma sala de aula de inglês e descobri que fazia parte de uma turma de adultos apaixonados por aprendizado. Nosso próximo semestre vai ser ímpar, nós pudemos dar palpites no que queríamos estudar, por que mostramos interesse pelo trabalho dos nossos professores. É algo tão gostoso, que dá pra entender por que a filha da Martha disse que pirulito tem sabor de Arco – íris.

Imagens
Calvin and Hobbes at Mantinj´s - http://www.reemst.com/calvin_and_hobbes/
Alice no País das Maravilhas - http://www.micropic.com.br/noronha/noronha9o.htm
El Mundo de Mafalda - http://mafalda.dreamers.com/