As sete dores
Quase nunca falo de cinema. Gosto muito, mas sempre prefiro ler o que os outros escrevem. Mas ontem ocorreu algo interessante. Minha irmã comprou três fitas de vídeo em uma locadora que estava fechando: A Vida é Bela, Don Juan de Marco e Seven.
Não costumo evitar ver um filme mais de uma vez, mas com Seven aconteceu o contrário. O contato com a capa da fita é motivo suficiente para que eu desista. Recordo – me da propaganda, dos comentários das pessoas, incrédulas com o desfecho da trama, e de todo o furor que esta causou quando estava em cartaz.
Eu não sabia de que se tratava direito o filme e meus amigos seguiram a risca o conselho da produtora: não conte o final deste filme a ninguém. Porém, pelas conversas que eu ouvi, percebi que havia uma maldade visceralmente latente que me fez ponderar sobre a ida, ou não, à sala de projeção. Acabei não indo, esperei sair em vídeo, vi acompanhada das minhas irmãs e não dormi uma semana inteira com aquele final martelando na minha cabeça.
A angústia do personagem de Brad Pitt, nos minutos que encerram a película, ainda sobrevive em mim, e talvez seja esta a razão pela qual eu evito Seven. Não conseguiria passar por aquilo outra vez. Fico lembrando das faces atormentadas das pessoas que assistiram comentando: “eu não sei o que faria se fosse comigo”. Eu também não sei. No momento eu achei que enlouqueceria, como o personagem do Pitt, por isso quando muitos comentaram: “mas ele não deveria ter feito aquilo, o psicopata venceu”, eu pensei que a decisão só poderia ser tomada por alguém que passasse por aquela nefasta experiência. Que eu não desejo a ninguém. Os comentários racionais, vindos de fora, de nada servem.
Toda a produção é merecedora dos prêmios que o filme conquistou, por que embora diariamente sejamos alvejados com cenas que enfocam a maldade humana, nada se compara a peculiaridade do tormento psicológico empregado em Seven.