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sábado, outubro 05, 2002

Questão de identificação...

Há muito tempo tem algo que perturba a minha mente e nas poucas vezes que tentei colocar as idéias a respeito disso para outras pessoas, fui tratada com desdém, então preferi me calar. Mas como o blog é meu e aqui não tem censura, então quem quiser pode preparar os ovos, as piadinhas de mal gosto, podem falar mal de mim em seus blogs, dizer que eu não entendo de música, mas eu vou estar muito feliz por que disse o que queria. Ponto para Max Weber e seu conceito de “PODER”. Aha!!!

Então vamos lá. Música é sempre um assunto polêmico e você está lendo o blog de uma pessoa que só ouve aquilo que gosta. Dentro destas opções está uma que faz os ouvintes mais radicais se contorcerem: Marcelo Bonfá.


O barco além do sol - Marcelo Bonfá

A esta altura certamente já tem gente migrando para outras leituras ou debochando de mim. Não importa! Eu vou continuar ouvindo o disco dele por longas datas e se alguém ainda quer saber o motivo, diria que é um disco extremamente intimista, introvertido, em alguns momentos metafórico, que fala de amores cotidianos, mas que no fundo diz muita coisa se você não tiver medo de admitir que todas as loucuras de amor que já fez em sua vida foi procurando alguém com quem pudesse dividir o resto de seus dias.

"Algumas vidas se juntam se completam
Outras se cruzam sem se tocar
Tudo o que queremos é nunca mais ter que dizer adeus"

Veleiro de Cristal - Letra: Bonfá/Fabra * Música: Bonfá

Mas saiba que essa é uma descrição parcial. De repente, é possível que outra pessoa ouça O Barco Além do Sol, e enxergue a obra por uma ótica diferente. Há quem discorde dizendo que o disco é meloso demais, que seja! Eu só não concordo com quem não escuta por preconceito, e fica criticando e ironizando quem curtiu. Estimo discos que tenham a cara de quem fez, e o do Bonfá é assim: mostra a personalidade dele, as coisas em que ele acredita, e isso é muito positivo, por que a indústria fonográfica tem sofrido muito com bandas “clichês”; feitas para fazer sucesso; aquela receitinha de bolo perfeita para agradar e não vejo sinceridade neste tipo de coisa. Situações como esta ocorrem em todos os segmentos da música – a cada dia mais fragmentada em subtítulos. No mundo pop é o que mais tem, duvido muito que a Kelly Key diga pro Latino: “Vem meu cachorrinho que a sua dona está chamando!”. Duvido!!! E a indústria está repleta destas coisas, artistas criando imagens socialmente falsificadas, como diz o Pedrinho Guareshi, em seu livro Sociologia Crítica.



Ainda lembro de uma série de menininhas chorando com o fim do TAKE THAT, quando o Robbie Williams encarou a coletiva dizendo “Eu vim aqui anunciar a minha liberdade!”. Embora isso possa parecer absurdo, mas aquela atitude dele foi ao mesmo tempo reacionária e fascinante. Ele mostrou a fragilidade de um sistema montado para criar “pop stars” cuja função é entreter, mesmo que seus participantes achem aquilo uma tremenda idiotice. Ele, teoricamente, cansou de fazer papel de “marionete”, e partiu para carreira solo, que mesmo não sendo totalmente o oposto do seu antigo grupo, passou a ter a cara dele.

Acho legal quando alguém consegue dar um passo a frente em nome daquilo que acredita ser sua identidade, mesmo que não signifique ter mais dinheiro ou um esquema trabalhando a seu favor. Este foi o caso do Bonfá, cuja crítica - salvo algumas exceções, somada aos desafetos e aos fãs mais ortodoxos da Legião, fizeram uma campanha maciça de depreciação de seu trabalho solo, que diga – se de passagem, não é essa coisa pavorosa que alguns tentaram mostrar não. Os arranjos são bem feitos, a parceria com Gian Fabra, John & Fernanda (Pato Fu) e Fausto Fawcett trazem boas letras ao disco, mesmo não tendo um vozeirão ele canta afinado e o mais importante: o resultado é sua imagem e semelhança.



"Existe um universo paralelo camuflado pelo mundano real
Que só aparece neste encanto neste beijo apaixonado
O espírito chamado amor"

Aurora do Subúrbio - Letra: Fauto Fawcett * Música: Bonfá

É isto que eu observo em um artista antes de tirar dinheiro do bolso para comprar um CD, ou de ficar na internet buscando informações. Logicamente o gosto pessoal influencia, não é por que é sincero que vou comprar o disco, mas dentre os estilos de música que aprecio, ter honestidade no trabalho é o primeiro requisito para fazer parte da minha discoteca e ser defendido com unhas e dentes quando eu sou xingada por não seguir o que manda o circuito.