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domingo, outubro 13, 2002

Assim foi e assim será...

Existem determinadas coisas que acontecem em nossas vidas que não são por acaso. Esta época de outubro – de 11 à 14 – é sempre uma época de lembranças, mas por incrível que pareça, ela torna – se uma época de novas descobertas sempre.

Lembrança 1 – Há doze anos eu perdia meu primo – irmão.

Lembro – me como ontem. Estava deitada em minha cama, quando minha tia e prima batem à nossa porta chamando os meus pais. Dizem que meu primo havia sofrido um pequeno acidente. Papai arrumou – se rapidamente e quis saber do que se tratava. Eis que o pequeno acidente não era tão pequeno assim: ele havia chegado à casa de minha avó às 22:00 e disse que ia até o outro lado da rua comprar chicletes – sua mania confessa. Mas durante a travessia aconteceu algo que mudou completamente as nossas vidas. Uma bala perdida, em uma briga de bar, varou – lhe a cabeça. Era o fim.

Durante os três dias seguintes, até ser detectada a morte de fato, vi meu pai chorar como um bebê, a minha vó repetir que sem ele não viveria e os pais dele sem noção alguma do mundo. Recordo que eu e minhas irmãs fomos afastadas de todos os tipos de comentários a respeito do assunto. Havia sempre alguém cuidando de nós, enquanto nosso primo – irmão ia embora.



Lembro que ele chamava minha irmãzinha caçula de “binha miribinha” e costumava pagar altos micos levando – nos ao cinema para assistir coisas como Xuxa, Os Trapalhões, Turma da Mônica, e todos os filmes infantis que apareciam nas telonas.

Com ele aprendi a gostar de música eletrônica. Na época ele ouvia Tecnotronic, Pet Shop Boys, essas coisas. Mas era um profundo conhecedor de música brasileira, fruto da formação musical de seu pai e costumava desfilar discos de Belchior e Raul Seixas no três – em – um moderníssimo que meu pai havia lhe dado de presente. Acabei herdando tudo quando ele se foi, até o aparelho de som.

Ele era estudante de Direito da faculdade onde hoje faço jornalismo, foi o aluno homenageado na formatura de sua turma e todos lembravam dele com muito carinho. Não pude ir à celebração. Engraçado, nunca fui a nenhuma das homenagens rendidas a ele durante estes anos, também não sei por que.

Só tenho a certeza de que a existência dele não foi em vão, pelo menos para mim. Sinto somente que a nossa diferença de idade era tão grande que não pude aproveitar mais de sua companhia. Ainda tenho o caderninho onde anotei as poucas palavras que pude proferir no momento em que tive certeza de que não o veria outra vez. Mas guardo comigo a certeza de que ele foi tão importante que a primeira palavra que falei em minha vida não foi papai, nem mamãe e sim: Jorge.


Lembrança 2 – Há seis anos falecia uma pessoa que eu admirava muito.

Eu não gosto do nome ídolo, prefiro dizer que eu o admirava enormemente, que suas letras ecoam na minha mente deste que eu era pequenina e que ele foi a única influência de infância que meu pai não conseguiu combater – Xuxa e Cia passaram rapidinho.



Renato Russo tinha em si algo transcendente, ele parecia materializar uma essência conflituosa sempre, que me atraía bastante, embora eu tenha que confessar que não conseguia me deprimir com as letras dele e nem enxergar as nuvens negras que diziam pairar sobre a sua obra. A única música que realmente me deu uma rasteira foi A Tempestade, do disco Uma Outra Estação. Esta eu confesso, não escuto.

Mas sempre encarei tudo o que ele escrevia como uma reflexão de mundo e me punha a pensar como fazer para que as coisas que ele mostrava de ruim em suas composições pudessem não se repetir. Era, a meu ver, uma questão de escolha: ficar chorosa com os males do mundo ou buscar uma solução para eles? Peguei a segunda alternativa. Lembro – me que ele disse em um de seus últimos shows que havia descoberto que a verdadeira mudança acontecia de dentro para fora, ou seja, se a gente muda conseqüentemente o ambiente em volta sofre reflexos desta mudança.

Fiquei pensando nisso e resolvi implantar esta dica em meu dia – a – dia, confesso que as coisas melhoraram bastante, além do que eu aprendi a me observar melhor. Logo, por mais que nos últimos anos tenham resolvido falar mal dele, diria que para a vida de algumas pessoas o que ele escreveu foi fundamental. Saudades do amigo Russo...

Lembrança 3 – Mas ainda existe esperança...

Imagino que a esta altura, se alguém não chorou – eu engoli as lágrimas algumas vezes aqui – deve estar pensando que eu resolvi falar apenas de desastres hoje. Nem tanto.



Sexta eu fui ao show de Los Hermanos – no Teatro Armazém – e tive a oportunidade de entrevistar o Marcelo Camelo e trocar muitas palavras com os demais integrantes da banda. Eles são fofíssimos. Nunca fui tão bem tratada na vida por alguém “famoso”. A simplicidade dos garotos é notória e eles fazem de tudo para você sentir – se bem. Quem ficou após o show pode apreciar um pouco a companhia dos rapazes, sempre muito sorridentes e pacientes – acima de tudo. O show foi animadíssimo, emocionante, todo mundo cantando tudo. Eu olhava aquela cena e pensava que há muito tempo eu não via nada igual.

A banda é muito boa ao vivo. Vi o show do lado direito do palco – para variar – onde encontrava – se o tímido Bruno Medina pilotando competentemente os seus teclados. Era visível a surpresa dos garotos diante da empolgação da platéia. Eles tocaram músicas de O Bloco do Eu Sozinho. Quem ainda não escutou este disco, eu aconselho: escute! Eu já fiz isso quatro vezes esta madrugada. Este disco é uma obra prima. Lindo! E pensar que ele quase não saiu por que não era interessante “mercadologicamente falando”. Se os próximos discos forem pouco mercadológicos, mas belos assim, que venham muitos.

“Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz!”
Todo Carnaval Tem Seu Fim



E eu lá, com meu gravadorzinho, acompanhada dos meus amigos, com gravadorzinhos idem, pescando informações para seus respectivos zines, páginas, programas de rádio e jornais. Foi muito bom! Conheci mais um pessoal de Aracaju – a Julia. Já havia conhecido Danilo, Aragão e Tiago, que fazem radio e tv na federal de lá e resolveram passar uma semana por aqui e visitar o pessoal da minha sala que eles conheceram no MIRC. Pense!

O pessoal do Coquetel Molotov – Vivi, Carol, Tathi e Tiago – estavam no comando do som animando o pessoal. Eu dancei bastante, e para variar, sem saber quase nada do que estava sendo tocado. Mas tudo bem...

Fico aqui, com a lembrança gostosa da sexta e esperando que o terceiro disco dos hermanos – que sai ano que vem – tragam coisas tão belas quanto O Bloco do Eu Sozinho. Quando escuto este disco sinto que a solidão pode ser, em certas situações, efêmera.

“Eu só aceito a condição de ter você só pra mim. Eu sei não é assim, mas deixa eu fingir...e rir.”
Sentimental

Fotos:
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