Há dias em que me pergunto se as pessoas prestam atenção nas coisas que acontecem no bairro em que elas moram. Eu moro em um bairro que tem a peculiaridade de ser ao mesmo tempo tradicional e popular. Pois bem, aqui coabitam pessoas com rotina simples, que moram no bairro e trabalham na feira, e pessoas que trabalham e estudam na universidade federal, pessoas de todos os lugares do país que vêm visitar um dos maiores centros culturais do país, pessoas de outras partes da cidade que trabalham na empresa de telefonia, e aqueles que fazem da avenida principal seu ambiente de trabalho um dia por semana, na feira da sulanca que é montada aqui toda quinta – feira.

Pois então, foi nesta salada mista que há mais ou menos um mês resolveu aparecer um “tarado da moto”. A situação seria gritante se ao mesmo tempo não fosse bizarra. Diz a lenda que o tal sujeito apareceu por estas bandas vindo da cidade vizinha, montado em uma lambreta verde, e que atacava suas vítimas à luz do dia com um revólver. O pânico se instalou, é claro. Até eu que sou feinha, pensei em não mais sair de casa. Mas tinha que ir para a faculdade e pegar ônibus na esquina do local onde a primeira vítima foi atacada. Desespero. Se eu via uma moto verde, já ensaiava uma corridinha até a barraquinha do seu joão.

Mais eis que na semana seguinte, surge mais uma história de que uma moça, grávida, teria sido vítima do tal cidadão, e que desta vez ele teria usado uma moto vermelha. Oh! Meu Deus, que fazer? Verde ou vermelha? Ninguém sabia dizer ao certo. Dias depois diz minha mãe que um sujeito agarrou uma moça pelos cabelos e ia levando – a para um terreno baldio a fim de fazer – lhe um mal horrendo, quando os moradores de um prédio viram e fizeram um escândalo. Diante da gritaria, o dito cujo saiu correndo e pegou sua moto que estava escondida ruas à frente e sumiu antes que a polícia detectasse quem era. Desta vez não viram a cor da moto. Agora é que estava tudo perdido mesmo! Qual seria a cor da motoca? Já me via correndo de todas as motos da cidade. Corra! Lola, corra!!!

Até que há dois dias, munida da violeta – minha bike roxa, vinha da casa da minha avó quando ouvi um zum zum na rua. Alguém fora preso como sendo o tal malfeitor. Quiseram linchá – lo. A polícia impediu que ele tivesse uma morte horrenda a pauladas. Debochavam do rapaz, que ainda por cima usava peruca. Horas depois o boato que chegava até a nossa casa, era de que o moço havia sido liberado, pois não era tarado e estava indo visitar a namorada – bairro popular tem disso, se algo acontece “na baixa da égua” – sinônimo de grande distância – todo mundo sabe. Sabe – se inclusive que o coitado além de apanhar, perdeu o emprego na empresa de telefonia, porque ficaram com medo dele ser mesmo o forasteiro caça – mulheres.

Este, a esta altura deve estar bem longe, por que depois do alarde e do sistema de segurança montado pela população aqui, ele só aparece se for kamikaze. E o moço da peruca virou o assunto – a piada da vez – nos ares do bairro...