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segunda-feira, dezembro 16, 2002

Conversinhas de Natal...

- Estava apenas dizendo que não gosto de me sentir mal por não ter dinheiro suficiente para dar presentes aos meus amigos durante o Natal...
- Mas é tão importante assim?
- Não sei...talvez seja só uma maneira de cumprir o ritual. Quando a gente se acostuma, acaba não pensando muito no que isso significa. Olha esse disco da PJ Harvey. Acho que o Rafael iria gostar...
- Mas você sabe fazer presentes tão bem. Porque simplesmente não senta e faz, já que acha tão legal dar algo que simbolize carinho durante as festas de fim de ano.
- Na verdade...nem pensei nisso. Sei lá...acho que não consigo mais ser tão criativa.
- Discordo. Talvez você só necessite parar um tempo e pensar com carinho em cada pessoa que você gostaria de dar um presente e depois pôr a mão na massa. Você faz coisas lindas...
- Não sei. Nossa! 32,00 um CD de PJ Harvey? Desisto!!!
- Por isso mesmo que eu insisto que você deveria usar o seu talento para fazer os presentes. Você gasta bem menos e o produto final tem um significado maior, porque não foi simplesmente retirado da prateleira, e sim feito especialmente para alguém.
- Qual o problema com presentes comprados? O que vale é a intenção.
- Nenhum problema. Mas se você não tem dinheiro pra comprar dez presentes e possui talento para fazer os dez pelo preço de três, deveria fazer isso.
- Mas precisa de tempo...
- Você não está de férias?
- Estou, mas queria fazer outras coisas...
- Que preguicite aguda é esta, menina? Você nunca foi de colaborar com a lei do menor esforço. Sempre fez questão de ter tudo bem feito.
- É verdade. Mas é que nem gosto mais tanto assim do Natal. Faço as coisas mais para não me sentir deslocada. Mas não gosto disso. Ver esse pessoal que nunca deu uma esmola sequer querendo esvaziar os pecados mandando cestas para a caridade ou doando dinheiro pelo telefone.
- Não consigo achar tanta falsidade assim no Natal. O que eu acho é que essa época libera nas pessoas um sentimento que a rotina engole durante todo o ano. Em dezembro o ritmo do mundo parece desacelerar, todo mundo parece pensar mais nas próprias atitudes. Acho o Natal uma época meio redentora.
- Redentora? É...talvez. Mas no ano seguinte começam todas as atrocidades outra vez.
- Atrocidade é esta sua preguicite aguda.
- Como é?
- Desculpa...desculpa...mas você querer dar dez presentes e ficar nesta tortura por não ter dinheiro pra comprar tudo, podendo pegar o dinheiro que tem e deixar dez pessoas felizes com coisas feitas pelas suas mãos com todo amor só pra elas. Não faz sentido. Desse jeito você nem agrada a quem quer e nem agrada a si mesma.
- De certa forma é verdade...
- Deixa esse CD aí. Vem cá...a gente vai no centro e vê o que pode comprar para fazer os presentes. Eu te ajudo. Vai ser uma terapia. Pensa na sensação boa de fazer alguém feliz com algo feito por você...
- Só falta você me dizer que para fechar com chave de ouro eu deveria comprar cartão de Natal assistencialista e anexar aos presentes, porque além de agradar os meus amigos eu ajudaria a quem precisa...
- Quem sabe? O que vale é a intenção...