Vida na Arte da Vida...
Encontrei no meio da agenda Arte uma frase que diz assim:
A vida é uma obra de arte, é só colocar arte na obra
blitos
A frase em si é muito interessante. Ela remete não só a concepção de coisa bela, inventiva, única, que a palavra arte costuma trazer, mas também ao fato de que a vida pode ser esculpida, curada, detalhada, construída. A idéia de poder construir a vida é tão fascinante que desperta calafrios.
Penso que construir a vida é deixar de lado totalmente o conceito de destino, de cartas marcadas, de caminho traçado ou escrito nas estrelas, embora isso funcione bem em histórias perfeitas de amor. Mas o fato é que deixando de lado essas teorias, nos defrontamos com a possibilidade real de escolher o caminho a seguir, o próximo passo a ser dado, e ter noção desta escolha sem jogar em terceiros, ou no destino, a responsabilidade pelas nossas vitórias e os nossos fracassos*. É assumir – se dono do futuro, entendendo que ele é a soma do passado com o presente, e que o presente a cada segundo é passado, então deve ser bem utilizado**.
E remeto – me novamente ao fato de separar o joio do trigo, em cada experiência guardar o seu melhor e aprender com o pior. Sempre pergunto em conversas íntimas – de mim para mim – o que quero ser como pessoa, e talvez este conceito de esculpir a vida, caiba como uma luva porque a todo tempo busco uma maneira de chegar ao que desejo ser. É sofrível às vezes. Nem sempre assumir erros, pedir desculpas, baixar a cabeça, e encarar os próprios defeitos é um processo fácil. Que dirá delicioso. Mas é artístico.
Colocar arte na obra. Colocar vida. Colocar significado. Ser como um artesão apaixonado por sua criação, que lapida, limpa, cuida, aprecia. Não faz seu trabalho apenas para a admiração alheia, mas o faz também para que tenha intrínseco nele o melhor de si, para que cada gota de suor, cada talhada certa e cada corte nas mãos valha a pena. É sair da matéria – prima para a obra – prima. Exige tempo, dedicação, força de vontade e um amor incondicional. Ninguém disse que fazer arte é fácil, que dirá vida de arte e arte na vida.
Em homenagem às vidas com arte e aquelas que precisam de arte, um belo poema do Mario Quintana:
Escrevo diante da janela aberta
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons ...acerta ...desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando nas folhagens!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúveu no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
A Rua dos Cataventos - Mário Quintana
Porto Alegre. Ed. Globo. 1940
Porto Alegre. Ed. UFRGS. 1992
* Antes que alguém pergunte se abracei o ateísmo coloco que, embora respeite e entenda os ateus, continuo tendo motivos meus para acreditar na existência de algo transcendente.
** Calma, este post não pretende figurar em nenhum livro de auto – ajuda. Apenas gosto de fazer reflexões sobre frases que acho interessante.