O que perdemos com a rotina...
Sexta-feira é um dia engraçado. Enquanto todo mundo que conheço está se preparando para badalar, a minha única vontade ao sair da aula era dormir. Já perdi a conta das vezes em que este dia chegava e eu nem lembrava que era começo de fim-de-semana. Por que os sete dias para mim não se dividem em semana e fim-de-semana e sim em “dias em que eu tenho atividades” e “dias em que eu posso dormir”.
Algumas vezes estes “dias em que tenho atividades” se prolongam tanto que passo semanas sem saber o que é ter um momento meu. Interessante é observar que muitas pessoas que conheço possuem a mesma rotina. Lembro que um filósofo alemão em entrevista a Isto É comentou certa vez que as pessoas não querem mais tempo em seus dias para lazer e sim para encaixar as atividades que já não cabem no cotidiano corrido. Ele argumentava que isso era esquisito, ou seja, como o desenvolvimento tecnológico podia ter tido, na sociedade atual, um caminho tão diverso de seu objetivo inicial, que era proporcionar ao homem mais tempo para lazer e para a família.
Quando penso nisso, me pergunto quando foi a última vez que perguntei como meus pais estavam. Não lembro. Quase sempre falo com a minha mãe com mau humor e meu pai vive dizendo que as filhas só o procuram para pedir dinheiro. Nossos pais viraram bancos. Deixaram de ser aquelas pessoas com quem dividíamos nossas vidas. Hoje em dia, pais e filhos mal dividem o mesmo teto, que dirá seus anseios de vida. Seja talvez este um dos motivos da violência cometida entre pais e filhos.
Uma vez perguntei a minha mãe que sonhos ela havia deixado de concretizar quando teve filhos e o que ela pensava da vida quando era mais jovem. Ela ficou tão constrangida pela pergunta incomum, que até então não conseguiu responder. Mas quando eu lembro, sempre insisto em perguntar. Hoje estava lembrando-me que nunca mandei um presente de aniversário para minha avó materna, que mora em outro estado e sequer me lembro de algum dia, mesmo quando ia bastante a casa dela, de ligar para dizer “Vó, Feliz Aniversário!”. E ela anda tão doente. Há quatro anos não a vejo. Dizem que ela está esperando me ver para morrer.
Estes dias, também, me peguei quase chorando de saudades do meu padrinho. Ele tem quase a idade da minha avó. Mora na mesma cidade que ela e também não sei mais dele. Não tenho telefone, ninguém manda notícias. Tenho um medo absurdo de chegar em Penedo e descobrir que ele faleceu sem que eu o visse. Eu amo tanto meu padrinho, mas nunca disse isso a ele. Acho que porque só agora o que eu sentia criou nome.
Minha madrinha para mim é uma completa desconhecida. Lembro que corria dela quando criança porque morria de vergonha. Fico me perguntando, porém, quem é aquela mulher? Por que motivo ela aceitou ser madrinha da minha pessoa, se sempre fomos tão distantes. Há dias em que tenho vontade de procura-la e propor a ela que passemos uma semana juntas, para ver se eu consigo ter um pouco de noção de quem ela é, o que faz, do que gosta. Sei apenas que ela é professora e seu nome é Margarida. Minha flor preferida, por sinal.
Mas toda essa ladainha é porque enquanto me afogava em textos e trabalho, ficava nas paradas de ônibus pensando que não sei nada sobre as pessoas que fazem parte da minha família. A gente sempre tem tempo para tudo, menos para tomar uma refeição junto com nossos pais e irmãos, como na infância. Alguém sente falta disso? Eu sinto, muita, muita falta. Ontem foi aniversário da minha vó paterna e tomamos café com ela, a família quase toda. Percebi que seria mais saudável como pessoa se tivesse isso cotidianamente. Ter meus pais juntos é impossível, que são separados. Mas queria pelo menos ter esta rotina durante a semana com ela e fim-de-semana com ele, e trocar de vez em quando. Comecei a me lembrar agora que nunca dormi um dia sequer na casa do meu pai...