Imagem traduzida em desrespeito...
Estes dias recebi uma mensagem eletrônica da França em que as únicas palavras proferidas eram “amo o Brazil, amo o carnaval, amo as escolas de samba, amo as mulheres brasileiras”. Sempre que recebo uma mensagem como esta de algum colega estrangeiro fico constrangida. Não sei como explicar ao pessoal de outros países – principalmente aos garotos – que o carnaval brasileiro não se resume a desfiles de escolas de samba e belas mulatas seminuas no sambódromo, porque esta é a imagem que se passa o ano inteiro em diversos lugares do mundo, e acabou por carimbar não apenas o carnaval, mas, principalmente, a mulher brasileira.
Ontem, encontrei outro e-mail da mesma pessoa que dizia assim: “Olá. Ontem eu vi garotas brasileiras. Elas são muito bonitas. Os homens brasileiros são muito sortudos. Se eu casar um dia, quero que seja com uma brasileira. Hoje vou ao forte para ver se encontro as garotas novamente. Garotas brasileiras”.
Nós somos mostradas no exterior não somente como belas, mas também como mulheres de fácil acesso e sempre dispostas a largar tudo para ter uma boa vida ao lado de algum gringo. Outro dia fui à praia, e ao tentar ajudar um turista, que estava meio enrolado com o vendedor de água-de-coco, fui assediada de uma maneira grosseira, além de ter escutado piadinha do vendedor que me perguntou se eu fazia parte de alguma agência de turismo sexual. Respondi negativamente e apenas comentei que sabia inglês por que fiz curso e estudava há mais de dez anos. Ele me olhou de cima abaixo, fez cara de desconfiança e comentou “mulata falando inglês? Sei não...”.
O choque foi imediato e a vontade de jogar a boa educação para o alto e dizer alguns desaforos, também. A diversão, é lógico, acabou. A volta para casa contou com a companhia da tristeza, não só pela falta de respeito dos dois homens, mas também por conta da conivência das pessoas com este esquema desrespeitoso. Não vou recomeçar aqui a ladainha de que é preciso combater o turismo sexual, porque isso já foi dito, enfatizado e constantemente batem nesta tecla na mídia. Porém, seria interessante se, pelo menos, os setores responsáveis pela divulgação da imagem do país no exterior utilizassem um outro tipo de atrativo que não as garotas, porque ficamos sujeitas a este tipo de constrangimento em qualquer lugar. Conheço diversas meninas que já foram assediadas, e até agredidas, em locais públicos, por estrangeiros tendo como motivo este conceito.
O que agrava mais ainda a situação é que a sociedade brasileira também absorveu a idéia. Quantas de nós não são olhadas de lado por estarem acompanhadas por algum amigo estrangeiro? Aqui no nordeste, onde a situação é mais gritante, já vi diversas meninas comentarem que, se recebem amigos de outro país em casa, saem em grupo, para evitar qualquer transtorno. Sem comentar que, quem tem programa de mensagem instantânea no computador, sabe o que é receber recados com propostas indecentes de rapazes de diversos locais do mundo. Tudo isso fruto da releitura feita do nosso país lá fora para qual não colaboram apenas as agências de turismo sexual, mas também uma poderosa empresa de marketing que usa a mulher brasileira como produto de exportação.