Pesquisar este blog

sábado, abril 05, 2003

Mais um papo sobre a guerra...

Tenho um amigo italiano com quem ando tendo umas discussões fervorosas por causa da guerra. Ele alega que a atitude americana é benéfica por ser a única maneira de depor a ditadura de Saddam Hussein; acrescenta que tem amigos iraquianos, que fugiram de seus lares por conta do regime, e complementa dizendo que os USA está libertando o povo iraquiano.

Não defendo Saddam e nem digo que a vida dos habitantes daquele país seja um mar de rosas. Porém, isso não significa que a vida sob o comando dos amigos de Bush será melhor. Além do que, pensemos bem: é ilusão achar que Bush está invadindo o Iraque para libertar o povo de uma ditadura. Os governos anteriores ao dele foram promotores e financiadores indiretos de diversas ditaduras no mundo, logo, não se pode acreditar que o interesse americano é de libertar quem quer que seja.

Fora este fato histórico, consideremos que ainda existem ditaduras no mundo. Com exceção de Cuba - que consiste um dos mais famosos calos dos EUA – e do Iraque, o governo americano não se moveu para libertar nenhum país que esteja sob um regime deste gênero. O que nos leva a concluir que se não há nenhum interesse econômico envolvido, os povos podem morrer dentro de um sistema ditatorial, que os supostos heróis do mundo pouco estarão se importando.

Se o Iraque não estivesse localizado dentro de uma área economicamente promissora, Saddam Hussein poderia ser o mais cruel dos ditadores, que não seria incomodado em tempo algum. Provavelmente ele até recebesse ajuda para manter o regime e evitar a proliferação de “mentes pensantes” que atrapalhassem os planos dos governantes ianques.

No meio de nossa conversa hoje, ele disse que eu possuía um sentimento anti-americano, além enfatizar constantemente que eu preciso me lembrar do atentado das torres gêmeas. Fico impressionada que as pessoas lembrem dos atentados das torres do WTC, mas esqueçam como ficou a Alemanha após a guerra, o Japão depois das bombas atômicas, o Vietnã, o Golfo Pérsico, o Afeganistão e as demais guerras e guerrilhas financiadas pelo governo americano. Não precisaria nem haver uma segunda guerra no Iraque para lembrar os estragos pagos pelos dólares do Tio Sam, basta ver a guerra sangrenta que dura na Palestina há décadas e os conflitos que a Turquia vem gerando com os Curdos, para evitar que surja o Curdistão.

Nisso, você liga a TV e assiste a bombardeios em maternidades, hospitais entupidos de civis feridos, bombas inteligentes que deveriam atingir alvos militares e (sem querer?) destroem quarteirões inteiros matando um monte de gente e tem que achar isso legal por que Saddam vai ser deposto? Faça-me o favor!

Depois ele veio me cutucar com a questão dos kamikazes. Pergunto-me quem é mais kamikaze: aquele que enrola bombas em seu corpo para morrer por fundamentalismo religioso ou aquele que deixa sua mulher e filhos para matar e morrer por um patriotismo ufanista? Isso, se considerarmos que todos os soldados americanos são voluntários, o que eu, sem sobra de dúvida, não acredito.

Eu possuía um sentimento de ressalva imenso aos kamikazes muçulmanos até ler uma entrevista com um deles, durante a guerra do Afeganistão. É cultural. É como a lei do Kanun de Abril Despedaçado, está tão incrustada na vida daquelas pessoas que acaba indo além da nossa compreensão e aceitação. É bem diferente de um sentimento de patriotismo ufanista que tem sua construção embasada em mentiras governamentais e ilusão de uma nação democrática e justa (o que são os guetos e o Ku Klux Klan americanos?).

Não conheço um, dois ou três americanos que ficaram de queixo caído quando se depararam com o mundo fora do american way of life. Conheço muitos: amigos, professores, intercambistas, etc. A decepção foi imediata, quando eles começaram a tomar conhecimento do que é feito aqui fora e não é mostrado lá dentro. E assim será quando a guerra do Iraque acabar. Ou alguém acha que a punição às redes de tv americanas que mostrarem os fatos vai durar para sempre? Da mesma forma que a realidade das outras guerras veio à tona em alguns anos, desta vez não será diferente. Resta saber quando o povo americano vai cansar de fazer papel de bobo da corte.