SBPC, pesquisa e frustração...
Começou a 55ª Reunião Anual da SBPC em Recife. Eu estava toda feliz porque ia ser monitora quando meu calvário começou. Cerca de duas semanas atrás, descobri na listagem da secretaria que haviam me colocado em outro grupo. Os dias foram se passando e a reunião de informações e treinamento não acontecia. Eu já estava indo praticamente a cada dois dias na UFPE para ver alguma coisa e nada. Nem nos murais, nem por e-mail, nem por telefone e muito menos na secretaria do evento.
Como estava de viagem marcada para um seminário, tentei contatar a coordenadora do meu grupo para resolver toda a minha situação antes de ir. Ela me mandou um e-mail, eu respondi e não recebi mais nada depois. Preocupada, deixei minha mãe responsável pelos contatos com a coordenação da monitoria, munida de todos os dados necessários, e viajei*.
Quando cheguei ontem descobri que ninguém do evento havia feito contato, nem por fone, nem por e-mail e muito menos resolvido nada com a minha mãe. Saí correndo para a UFPE e descobri que eu ia ficar sem monitoria. A primeira secretária que me atendeu disse que as atividades do grupo em que eu estaria haviam sido canceladas por falta de verba e que os monitores que tinham aparecido durante a semana tinham sido remanejados. Perguntei como eu ficaria, e ela disse: “quem não apareceu perdeu, a gente não pode fazer nada”.
O meu sangue subiu. Eu não gritei com ela, mas reclamei indignada daquela situação, que todo mundo naquele espaço sabia, e pedi para falar com a coordenação. Um garoto viu meu desespero e sorrindo veio perguntar o que tinha ocorrido, quando a secretária que atendeu minha mãe veio falar comigo. Pediu para eu me acalmar e disse que a coordenadora havia “esquecido” deste grupo adicional e que por isso o evento havia decidido dar gratuitamente as inscrições para os 140 membros que ficaram sobrando.
Eu afundei de tristeza. Outras pessoas ficariam alegres, mas tudo o que eu queria era trabalhar no grupo que eu escolhi. Era importante para mim. Ciência é uma área que me fascina desde a infância e ser monitora da SBPC era algo que eu esperava ansiosa desde o dia em que preenchi a ficha. Eu sonhei com isso. Eu perturbei a minha coordenadora de faculdade até ela conseguir notícias de como andava a monitoria. Eu fui nas audiências públicas, ajudei meus outros amigos que seriam monitores com informações do evento (engraçado que com eles deu tudo certo!) e acabei sem ser monitora. Até agora, mesmo depois da inscrição confirmada, material pego e tudo mais, eu ainda não acredito que eu batalhei tanto para não conseguir.
Caso de amor com a SBPC
Eu tenho uma relação de amor com a SBPC, foi nela que eu apresentei meu primeiro trabalho científico com um grupo de alunos da minha escola, quando entrei no segundo grau. Foi nela que nós ganhamos nosso primeiro prêmio na SBPC Jovem. Foi nela que eu conheci os cinco físicos da USP que acabaram concretizando minha paixão pela ciência. Foi naquele espaço, há exatamente 10 anos, que tudo o que eu queria ser na vida - pesquisadora - apareceu diante de mim. Foi por causa daquela feira que eu fiz vários mini-cursos na área de ciências, que eu endoidei por astronomia, que eu agüentei seis anos no curso de engenharia querendo fazer iniciação científica na área de solos e que me motivou a largar o curso para tentar jornalismo, porque um bom jornalista é também um bom pesquisador.
Por todos esses motivos, esta reunião, dez anos depois, na minha cidade, tem todo um significado na minha vida. Tudo começou lá e eu não pude realizar o que eu mais quis nos últimos quatro meses que era ser monitora. Eu estou tão chateada, tão triste com isso, que mesmo andando pela UFPE durante o início da noite e vendo pessoas de todos os lugares do Brasil curtindo aquele lugar, eu não consegui ficar plenamente feliz. Agora terei que esperar pela próxima oportunidade, se houver, já que não posso ser monitora do evento em outros estados.
Eu não sou cachorro não
O que me deixa mais triste nisso tudo é que mesmo eu tendo batalhado bastante nos últimos anos para ver se consigo alguém que queira apostar em mim como pesquisadora eu só tenho recebido não. Quando eu estudava na estadual não quis aceitar um trabalho sujo de um orientador e ele me queimou nos centros de pesquisa dizendo que eu “não queria trabalhar”. Depois de quatro anos e meio tentando, mandei aquela faculdade pro espaço e fui pra a federal. Lá não me aceitaram como pesquisadora do PIBIC porque eu tinha duas reprovações na antiga faculdade – o detalhe é que eu fiz vestibular e comecei o curso novamente.
Como eu pedi dispensa de disciplinas e em duas delas eu tinha reprovações na outra faculdade, eles não aceitaram. O maior absurdo. O pessoal do Corpo Discente ficou de queixo caído, pois, quando um aluno é dispensado em uma disciplina significa que ele cumpriu aquele crédito em outra instituição de ensino superior, não interessando se ele foi reprovado uma vez ou não.
Nisso, eu desisto de engenharia para fazer jornalismo. Passei o primeiro semestre inteiro estudando que nem uma louca para conseguir coeficiente de rendimento 9,5, quando recebo a notícia de que a CNPQ não aceitava alunos maiores de 24 anos. Saí correndo para o PIBIC e descobri que a minha atual universidade era quem sustentava o centro de pesquisa lá existente. Um alívio. Fiz inscrição em uma pesquisa científica. Na hora do resultado o orientador me manda e-mail dizendo que ele havia dado a bolsa para duas garotas de semestres mais avançados, e que como eu estava apenas no começo do curso poderia ter mais chances depois.
Detalhe: a faculdade atual restringe o tempo em que um aluno pode concorrer a uma bolsa de iniciação científica entre o 3º e o 6º período, ou seja, eu poderei apenas concorrer novamente quando eu estiver no 5º período e se houver mais algum evento indesejável, eu não poderei fazer pesquisa científica nesta faculdade. Depois de tudo isso, eu só posso acreditar que tem algo de errado acontecendo. O pior é ver o pessoal me pedindo para ter paciência. Sinceramente, dá vontade de dizer uma coisa bem feia.
* Depois eu falo da viagem que foi ótima!
** Depois eu falo, também, do vexame de abertura do evento!