O Parque Treze de Maio, em Recife, é um mais movimentados da cidade. Um espaço que tem fama ambígua: por um lado é considerado um local perigoso, por sua localização; por outro lado é tido como ninho de amor dos casais de namorados que frequentam o centro do Recife (realmente, se você passar pelo parque pode ser testemunha ocular de muitos beijos, abraços e algumas coisas movendo-se atrás das árvores). É também um local habitado por um número imenso de pombos.
Na minha infância, o número de crianças costumava ser imensamente maior que o número de adultos e meu pai costumava nos levar para dar comida aos pombos. Num desses dias minha irmã caiu no laguinho dos patos e me pediu ajuda. Como boa salvadora do universo, estendi a mão a minha caçulinha que, com um sorriso maroto, usou toda a força que podia para me puxar para dentro. Ficamos as duas gritando por socorro, enquanto os patinhos nos rodeavam cantando alegremente como se quisessem entoar uma sinfonia junto com nossos berros. Minha irmã do meio, que assistiu a cena, nem chegou junto e sobrou para meu pai o resgate das duas filhas ensopadas.
Uma senhora, que já tinha dado umas três cantadas no meu pai (imaginem!?!) aquela tarde, se aproximou pela quarta vez bem na hora em que nosso herói estava espremendo os singelos vestidos de florzinha que a minha mãe havia costurado. Ela parou, deu um sorriso enorme para o meu pai e perguntou:
- Elas cairam no laguinho, foi?
E meu pai, com a maior gentileza do mundo, respondeu:
- Não, minha querida. Choveu.
O sol estava brilhando como nunca aquela tarde e meu pai, assim que terminou de espremer nossas vestimentas e recuperar os sapatos, tratou de juntar sua cria e despachar todo mundo para casa. Eu nunca esqueci dessa estória da mulher. Ele nem recorda da estória e muito menos quem era a mulher.
Lembrei disso por que passei pelo parque quando saí da Biblioteca Pública e, no meio da manhã, me deparei com a singeleza desta cena. Não resisti, tirei a máquina da bolsa e aqui está o resultado:
