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domingo, setembro 14, 2003

Dando o ar da graça...

Bom, depois de um bom tempo caminhando pelo mundo, estamos de volta. Eu recebi uns recadinhos carinhosos, como o do Bruno nos comentários. Obrigadinha! Estou de volta e prometo não demorar tanto assim. É que eu estava em Belo Horizonte. Fui participar de dois congressos de comunicação. O CONECOM, promovido pela ENECOS – Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social – que tratou sobre a qualidade de formação do Comunicador Social. O segundo congresso foi o encontro anual da INTERCOM, que este ano teve como tema Ética, Mídia e Sociedade.

O CONECOM

Foram momentos bastante proveitosos para a minha vida acadêmica e pessoal. É interessante demais ver o pessoal do movimento estudantil de comunicação participando ativamente de todos os projetos que visam a melhora dos cursos de comunicação e, também, batalhando para que muitos outros, envolvendo temáticas como a democratização da comunicação, saiam do papel. É apaixonante ver pessoas, que se deslocam de todo o Brasil, tentando melhorar algo na área a que se dedicam com o objetivo de trazer benefícios para a sociedade. Muito diferente de tanta gente que fica de longe apenas criticando ou que usa os movimentos sociais como trampolim político.

O encontro foi na UFMG e nós ficamos alojados no Mineirinho, na ala das delegações, uma espécie de hotel para os atletas. Os quartos eram super legais, com camas, banheiro, chuveiro quente, muito bom! Para nós que estávamos acostumados com os nossos queridos alojamentos, de colchonetes no chão, foi uma bênção. Além disso, foi muito bom rever as amizades que fizemos em outros encontros. Receber abraços super carinhosos, ver sorrisos e culturas diferentes se integrando – eu tomei tanto chimarrão e comi tanto pão de queijo que fiquei na dúvida se retornava a Recife, se ficava em Minas ou se migrava pra Porto Alegre, ehehe. Também recebi umas propostas para ir à Brasília ou pegar carona com a delegação de São Paulo e ficar uns tempos lá. Se eu não estivesse na metade do semestre na universidade certamente teria pensando muito bem nessas propostas.

O INTERCOM

No congresso da Intercom eu acabei participando pouco das mesas e debates sobre a área de jornalismo. Dediquei meu espaço para o núcleo de pesquisa voltado para a área de editoração. O motivo foi simples: este núcleo era mais interessante. Eu estou meio cansada dessas palestras repetitivas de jornalismo. O pessoal analisa a imprensa na guerra, a imprensa nas eleições, mas ninguém abre espaço para analisar outras coisas, como a quase inexistente crítica cultural ou a pouca ênfase que é dada aos cadernos de ciência, tecnologia e meio ambiente dos jornais.

Se bem que houve um núcleo de pesquisa sobre ciência e tecnologia, mas ele foi muito incipiente. Sobre crítica cultural eu não vi nada. Ninguém dedica tempo para analisar os cadernos culturais e ver que eles deixaram de ser cadernos de formação/ informação para serem cadernos de indicação (leia esse livro, ouça essa banda, veja esse filme) ou cadernos feitos exclusivamente para uma camada de intelectuais que conversam entre si através dos artigos que escrevem. Os cadernos culturais, dos jornais feitos para as camadas populares, parecem mais um guia de programação para o fim de semana e até chegam ao cúmulo de veicularem pôsteres de atores/ cantores famosos para as menininhas fazerem coleção. Como ter crítica cultural em um jornal que incentiva a idolatria?

São essas coisas que as pessoas não param para discutir e ficam anos a fio dedicando espaço para especialistas falarem o quanto a imprensa foi parcial na cobertura da guerra do Iraque ou que estratégias midiáticas foram utilizadas para derrubar Lula nas eleições. Não que eu não ache isso interessante, eu acho. A questão é que é necessário oxigenar mais o campo das análises e das pesquisas. Fica todo mundo pesquisando uma coisa só e esquecem de outras áreas que também influenciam o cotidiano das pessoas. Vocês já viram alguém pesquisar sobre a dificuldade de leitura dos cadernos de economia dos jornais? Ou os próprios jornais dedicados ao campo da economia, com milhões de siglas, indicadores e verbetes econômicos que deixam qualquer mente atordoada? Esses cadernos têm um dialeto próprio e quem não conhece acaba excluído do fluxo de informações da área. Onde estão as pesquisas e propostas para melhorar este segmento da imprensa?

Por isso acabei indo para o NP de Editoração. Foi muito mais legal. Eu aprendi muitas coisas sobre a área e vi análises bem mais interessantes dos veículos de comunicação. Por exemplo, um garoto do Rio Grande do Sul apresentou uma análise bastante interessante sobre a revista Pop, que era uma revista de música e comportamento nos anos 70, lançada pela editora Abril. Para nossa surpresa, alguns dos senhores e senhoras que se encontravam no recinto foram leitores da revista e teceram comentários a respeito. Outra professora de Minas, mas que mora na França, estava fazendo uma análise dos textos presentes nos bordados com o objetivo de descobrir se as mulheres que faziam esse tipo de trabalho utilizavam-no, também, para escrever uma espécie de autobiografia.

Esta foi a apresentação que mais repercutiu na parte da manhã, encontrando par apenas no último trabalho da tarde em que uma professora estudava a atração por Harry Potter, e destacou em sua fala que o trabalho de J.K. Rowling reproduz diversas matrizes culturais com as quais as pessoas se identificam. Eu disse a ela que quero ler toda a tese depois, porque ela tem umas idéias muito interessantes. As pesquisas, em si, eram todas muito boas. Um professor do Rio Grande do Norte estava estudando a influência do contador de estórias no desenvolvimento do interesse das crianças pela literatura. Outro professor pesquisava sobre as editoras consideradas subversivas no período ditatorial e um terceiro pesquisador destacava o crescimento do interesse pela literatura policial. Foi um dia absolutamente enriquecedor. O pessoal é maravilhoso. Eu adorei. Espero continuar participando deste grupo nos próximos encontros da Intercom. E que venha Porto Alegre...

A ROUBADA DO REI

A única coisa realmente ruim de todo o Intercom foi a localização da pousada. Parecia mais que o pessoal não queria os estudantes por perto. O congresso era em Belo Horizonte e a pousada ficava no interior de Betim, uma cidade vizinha, no meio do mato. O lugar era lindo, eu admito. Belíssimo. Porém, totalmente inadequado para quem quisesse participar do congresso. Além disso, os atendentes não eram muito simpáticos.

Os donos da pousada não ficavam lá e na primeira noite um pessoal de São Paulo acabou dormindo fora do alojamento porque o rapaz responsável pelas chaves não quis abrir um chalé para eles, alegando que os donos da pousada não estavam presentes para credenciá-los. Como se não bastasse, havia 300 estudantes alojados e a Intercom disponibilizou apenas um ônibus para o transporte, que dava uma viagem de manhã e outra no começo da noite. Se o ônibus cabia 45 pessoas, como iriam as outras 255? O pessoal veio com uma conversa de que quem tinha ido de ônibus deveria usá-lo. Mas e quem fretou ônibus que só tinha permissão para circular em BH? Como é que ficava?

Muita gente acabou gastando bastante dinheiro com transporte para o local e o que é mais absurdo é que o pessoal voltava para a pousada para tomar banho e trocar de roupa para ir às festas do congresso que eram em Belo Horizonte. Se considerarmos que a viagem de Belo Horizonte até a Pousada do Rei durava cerca de 1 hora e quinze minutos e que não havia ônibus de linha para o local, todas as vezes que o pessoal tinha que sair era uma tortura. Se perdesse o ônibus do congresso, tinha que fretar um dos ônibus das delegações ou fretar uma Van, que geralmente cobrava 5,00 para ir levar. Imagina?

Para piorar, a nossa diária era até a 00:00 do sábado e quando chegamos o responsável no local ordenou que tirássemos as malas até 20:30, ele jogou as malas do pessoal da Paraíba no quarto do pessoal de Pernambuco, e só a gente sabe o desespero que foi arrumar tudo aquilo. E ainda por cima, a gente tinha passado o dia no congresso, estávamos cansados e o cara simplesmente mandou desligar a água do chuveiro do quarto para que ninguém tomasse banho, porque era para sair logo, que ele tinha outra delegação para alojar. Tudo isso sem a gente ter sido avisado previamente.

A princípio eu não fiz muita questão de estar na pousada porque saía tão cansada do congresso que a única coisa que eu queria era dormir, e bem. Mas depois do tratamento dispensado pelo pessoal do lugar, eu tomei um abuso enorme deles, sabe? Todos os estudantes foram tratados sem um pingo de respeito tanto pelas pessoas do lugar quando pela organização da Intercom que não deixou clara todas as informações para as delegações que vinham de outros estados. Absurdo! Se ainda couber uma reclamação no Procon, eu sou a primeira da fila.