Pesquisar este blog

domingo, novembro 23, 2003

Jornalismo Investigativo...



Foi realizado na Unicap, nos últimos dois dias, o Seminário Internacional Sobre Jornalismo Investigativo. O evento foi promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), uma instituição criada há menos de um ano e que vem desenvolvendo um excelente trabalho na área. É bom conferir.

O problema em participar desses seminários e palestras nas diversas áreas do jornalismo é ficar cada vez mais indecisa e, ao mesmo tempo, maravilhada com o leque de possibilidades do nosso campo de atuação. Há dias em que eu fico pensando no meu futuro e não sei bem em que área realmente eu gostaria de atuar. Adoro jornalismo científico, literário, social mas também gosto de fotojornalismo, radio, webjornal. Não sei...não sei. Eu não vou nem pensar nisso agora porque tenho consciência de que existe muito conhecimento a ser adquirido nos próximos três anos, antes de decidir que ramo eu vou abraçar, pelo menos inicialmente.

Mas o seminário foi excelente. Durante dois dias discutiu-se o que é jornalismo investigativo, o panorama do jornalismo investigativo realizado na América Latina, os principais erros e acertos dos profissionais que fazem jornalismo investigativo no Brasil, os limites desse tipo de atividade, a necessidade de realizar um trabalho impecável para evitar a indústria das indenizações, entre outros temas. Diversos jornalistas, produtores, editores, estudantes, promotores, procuradores e outros membros da área jurídica participaram do encontro.

A participação dos membros da justiça deu-se porque os jornalistas acreditam que hoje o departamento jurídico de uma empresa de comunicação deve ser parceiro dos repórteres e que as pautas devem ser discutidas e analisadas antes para evitar processos depois. Uma coisa interessante, porém, é que os jornalistas dizem que a função desse departamento não é vetar a matéria e sim orientar os profissionais de comunicação em como construí-las sem que os limites da privacidade e os direitos do cidadão sejam ultrapassados.

Diversas vezes os palestrantes foram questionados sobre os limites éticos do jornalismo investigativo, no tocante ao uso de câmera escondida e outros equipamentos. Eles disseram que o limite era a relevância pública do fato. Se o que está sendo investigado é um assunto que é de interesse público por prejudicar a sociedade – como o descaso nos hospitais públicos, a lavagem de dinheiro em órgãos do executivo e coisas afins – então, os meios usados são justificáveis. É claro que os jornalistas afirmaram que é preciso ter muito cuidado na apuração dos fatos e na forma como esse fato será colocado para a sociedade para que erros não venham a prejudicar pessoas inocentes. Fazer jornalismo investigativo não é brincar de 007.

Eu sei que aprendi bastante nos últimos dias. Fiquei um pouco decepcionada com a mesa que representou o nordeste nessa discussão. Não vou expandir minha crítica a todos os profissionais que ali palestravam, porque parte deles era boa, mas em geral a mesa foi fraquíssima, não conseguiu fazer uma análise do jornalismo investigativo praticado no nordeste. Se bem que falar em jornalismo investigativo no nordeste é se referir a iniciativas pontuais de jornalistas independentes, ou tão bem colocados no mercado, que ninguém os questiona. Não é novidade para ninguém que os meios de comunicação no nordeste ou são controlados pelas oligarquias intocáveis que descendem dos grandes coronéis ou estão nas mãos dos grandes empresários que tem relações de amizade que emperram a atividade jornalística local.

O pior de tudo é ver os jornalistas que trabalham nesses veículos afirmarem, com a maior naturalidade, que o que é contrário ao dono do jornal não entra na pauta. É claro que eu sei disso há muito tempo e seria inocente se afirmasse o contrário. A questão é que por mais natural que isso possa parecer, não é. Volto a bater na tecla de que o que é aceito pela maioria como comum não significa que é normal. O normal seria ter uma imprensa independente, comprometida com a sociedade e não com os lucros empresariais. Agora, se as pessoas tomam o comum como normal, é outra história. Tem gente que diz que isso é idealismo. Ainda bem que há jornalistas que acreditam que esse “idealismo” é saudável. O mais engraçado de todo esse processo é ver as pessoas baterem no meu ombro e proferirem “quando você entrar no mercado, você vai mudar”. Enquanto elas riem, eu dou gargalhadas também, por saber que certas coisas é questão de escolha e minhas escolhas não estão voltadas para me inserir nesse esquema. Mas esse papo fica para depois...

Se alguém não conhece a ABRAJI devia conhecer. Eles fizeram um evento ótimo, bem conduzido e relevante. Acho que de agora em diante, o jornalismo investigativo ganhará uma força enorme no Brasil...