Mais gente dizendo adeus...
Bom, por onde começamos?
Há tanta coisa para dizer que eu sinto um certo desespero apenas em pensar. Férias, estou de férias desde ontem. Queria ouvir muita música, mas meu tio faleceu ontem por volta do meio dia e minha mãe precisou viajar correndo para Alagoas. Fiquei sabendo às 23:00 quando cheguei da faculdade e não dormi. Acho que desmaiei durante a madrugada porque parte dela eu passei me debatendo na cama. A outra parte eu nada senti até abrir os olhos por volta das 05:00 e sentir meu corpo pesado. Pesadíssimo. Levei uma surra e não sei. Mais uma surra da vida. Será?
Eu sabia que ele iria embora logo. Trabalhou muitos anos no eixo São Paulo – Alagoas. A vida de caminhoneiro obrigava-o, muitas vezes, a se recolher em lugares precários para descansar e numa dessas vezes um barbeiro deixou sua marca: a doença de chagas. Conviveu por mais de quarenta anos com o coração em processo de crescimento. Morava em cidade pequena. Sem atendimento especializado. Precisava sempre se locomover para a capital alagoana quando a enfermidade ultrapassava os limites. Três horas de viagem. Era sempre isso.
A distância de casa o entristecia muito. Gostava do seu quintal, das aves, da horta, do pé de jaqueira enorme, que oferecia suas raízes para o descanso após o almoço. Os netos? Ah! Os netos. Ele os amava. Ouvia os gritos de vovô vovô com a maior satisfação. Cuidava deles com carinho, sempre rindo das traquinagens da garotada. Era sempre disposto e trabalhador. Levantava com o cantar do galo e dormia quando as estrelas tomavam conta do céu. Belo. O céu naquela cidade é tão bonito que chega a entorpecer e ele admirava muito aquele ambiente. Colocava sua cadeira de balanço no quintal e, entre conversas com toda a família, contava todos os casos acontecidos na cidade ao longo do dia.
Sua maior tristeza foi a perda do filho em abril passado. Não contaram nada. Não disseram uma palavra sequer. Seu coração poderia não suportar. Mas pai sente e antes que alguém pensasse em quebrar o silêncio, ele proferiu: “pode me contar, eu sei que meu filho morreu”. Desde então, suas visitas à UTI tornaram-se constantes. Até que o marca-passo parou. Pensaram que a troca do aparelho resolveria a questão, como foi das outras vezes. No entanto, era apenas o primeiro sinal de adeus. Adeus que foi sendo confirmado ao longo da semana, com o silêncio que tomou a UTI.
Em menos de um ano, eu sento aqui pela segunda vez e fico com a sensação de que as coisas não são mais as mesmas. Não chorei. Não senti dor. Nem agora. Nem em abril quando aquele telefone tocou a uma da manhã e a voz do outro lado dizia que meu primo havia morrido. Não consigo ter reações físicas. O que é bem pior. Pois a vida para naquele momento. Como um filme que acaba. Não existe depois. Um estado de catatonia toma conta e eu fico repassando as cenas antigas...lembrando...do que foi e não será mais e constatando que tudo...tudo é muito frágil...