...e a vida escoando de dentro de mim...
Em 1993, Hilda Hilst lançou um conto chamado "Rútilo Nada", que começa com a seguinte frase:
OS SENTIMENTOS VASTOS não têm nome.
Tenho a impressão que ela usou essa frase para falar sobre aquelas coisas que nós dizemos dilacerar, esmigalhar, fender o ser humano. No entanto, esses verbos são tentativas vãs de expressar algo que se aproximaria de uma dor suprema. Não há letras articuladas que consigam descrevê-la – nem mesmo esse adjetivo que acabei de estampar aqui.
A gente acha sempre que todas as coisas que acontecem contra a nossa vontade causam esse tipo de sensação. Então, muitos desentendimentos no cotidiano - com amigos, namorado, irmãos ou pessoas próximas - às vezes nos deixam com a sensação de que estamos à beira do precipício. Quando não estamos.
Tive plena certeza disso quando, depois de passar uma semana dormindo em um hospital, voltei com meu pai para casa carregando um diagnóstico: aneurisma cerebral abaixo do nervo óptico. Solução sem risco: nenhuma. Medidas a serem tomadas de imediato: conversar com um neurocirurgião e escolher a operação menos perigosa.
Olhar para o meu pai e compreender que amanhã ele pode não estar aqui comigo foi um peso sem similaridade para a balança da minha vida. Todos os conflitos vivenciados nos meus vinte e sete anos não conseguem ter massa suficiente para rivalizar com esse diagnóstico. Se a balança equilibrada é sinônimo de justiça, por aqui ela pendeu de vez para um lado.
E essa dor eu não consigo descrever...
OS SENTIMENTOS VASTOS NÃO TÊM NOME.
Isso não é uma frase, Senhora Hilda. É uma sentença.
Um martelo batido.