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sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Conversa Informal...

O carnaval – que eu não brinquei – terminou e levou consigo algumas coisas boas que andavam por aqui. A primeira delas foi o amigo Victor, que veio visitar Recife, e hoje retornou para o Planalto Central. Embora tenha passado dez dias aqui, eu o vi apenas três vezes. Deu uma pena enorme não ter podido, pelas forças das circunstâncias (como mostra o último post), dar mais atenção a uma pessoa que é muito especial e amiga.

E ele é tão danado que, antes de ir embora, me comprou um disco que eu estava namorando há meses: o Beleza Roubada, da Dulce Quental. Para quem não lembra dela, a Dulce era vocalista daquele grupo Sempre Livre, que cantava na década de 1980: “Eu sou free, sempre free, eu sou free demais”. Pois bem, ela tem quatro discos gravados, em carreira solo, e Beleza Roubada é o último.
Confesso que o álbum mexeu comigo, em primeiro lugar, por causa da capa. Ela traz uma singela borrachinha rosada que acabou de ser usada para apagar algo de um papel. As borrachas fazem parte de uma metáfora na minha vida.



Enquanto o ato de apagar, para algumas pessoas, significa esquecer, tirar de vista, para mim ele tem um caráter muito forte de recomeço, de querer consertar, fazer melhor. Quando eu vi o disco, pela primeira vez, fiquei pensando nisso. Na quantidade de coisas que eu gostaria de recomeçar, de repensar. As aulas de música, que eu abandonei, e tantas outras coisas que eu deixei pelo caminho e sinto que não devia ter tomado essa atitude. Atividades que eu apaguei da rotina e hoje sinto necessidade de recuperar essas linhas no diário da minha vida.

Então, o disco acabou tendo um significado especial pela fase que eu estou vivendo, de começos e recomeços. Foi muito bom ter voltado a conversar com Renata; ter resolvido uma pendência com um amigo que eu amo-muito-mesmo-de-verdade e que estava me doendo; ter recebido do meu pai um voto de confiança para revisar e propor um projeto editorial para o livro de crônicas sindicais dele; ter descoberto que eu vou ser tia em setembro; e, por fim, ter decidido, depois de meses de angústia, que queria mesmo ser jornalista e me dedicar às narrativas que têm mais a ver com essa profissão, como a crônica e o jornalismo literário, além dos formatos tradicionais.

Eu não vou deixar de escrever ficções pequeninas, até porque elas me servem como um bom exercício. No entanto, é como estava dizendo a Marcelo ontem de madrugada. Eu não sinto mais tanto prazer em ficar aqui reconstruindo passagens do cotidiano até que elas se tornem ficções. Pode ser que isso mude, mas, no momento, eu quero usar meus lápis e papéis para escrever a respeito de outras trajetórias. Pode ser de pessoas anônimas, que me tocaram, ou mesmo histórias minhas. Aquelas que, em algum momento da vida, eu deixei de contar.

P.S - Um abraço no amigo Victor.

P.S 2 - Vale apenas escutar o disco da Dulce e, também, o Lágrima Azul, do Milton Nascimento, que é lindíssimo!