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sexta-feira, julho 29, 2005

"a gente sente saudades...ô
...a gente sente saudades..."



Semana passada, a esta hora, eu estava na cozinha do flat, em Fortaleza, derretendo leite para o jantar, enquanto amigo Con dormia e Brenno lia Montaigne no sofá. Tudo isso é para lembrar que meu coração não tem tamanho para comportar a saudade da semana boa que a gente passou. Nossa senhora! E Érico ainda envia uma mensagem hoje dizendo: “vocês deviam vir mais a Fortaleza”. Quase chorei. Eu quero muito, Érico. Adoraria ver um show com todos vocês juntos.

Mas voltando ao leite. A gente fez uma loucura: compramos pãezinhos, queijinhos e outras delícias para comer durante a semana, mas almoçamos e jantamos quase o tempo todo na rua – porque a SBPC era loooonge. Resultado: o leite ficou três dias fechado no frigobar e acabou virando uma barra leitosa congelada. Então, algum dos meninos teve a brilhante idéia de derreter o leite. Foi ótimo, porque ele saiu no ponto para receber o chocolate em pó e virar aquele maltado delicioso. Oba! E que saudade...

Saudade também dos sorvetes, das caras engraçadas de Joana, das cantorias de amigo Con e do povo amado dele, das conversas com Brenno, da correnteza do mar e da vista do barquinho. Ah! não posso esquecer do trem. Gente, passava um trem de carga na esquina do flat, na calçada de um edifício residencial. Ele vinha apitando de longe. Era um barulho dos infernos. No primeiro dia em que ouvi, pensei “meu Deus, deve ter alguma coisa desabando”. Era quase cinco horas da manhã e aquela barulheira que não acabava nunca!!!!

Além disso, gente eu conheci o Beto, que é o moço do site Louco Por Vinil - e que eu adoro! Li algo sobre ele, pela primeira vez, na coluna que o Rodney Brocanelli tem no Lab Pop e sai divulgando. Quando contei a Con sobre a descoberta, ele disse: "ah! ele é meu amigo!". Pirei! Beto é uma figura ótima! Eu disse a ele, mil vezes, que o site precisa de atualização. A gente quer ler mais coisas legais sobre bons discos. Enquanto isso não acontece, leiam os arquivos. Vale muito a pena!

E a SBPC...

Participar de uma SBPC fora de Recife foi uma experiência interessante. Depois de estar em duas reuniões na capital pernambucana (1993, na SBPC Jovem, e 2003, como ouvinte), eu pude finalmente ir a uma SBPC como pesquisadora e foi legal. Peguei alguns bons contatos com pessoas que estavam com trabalhos envolvidos na área de história da imprensa e pretendo entrar em contato com elas assim que me organizar por aqui.

No entanto, o meu conceito de distância mudou depois desta SBPC, na UECE. Eu pensava que morava longe da faculdade, gastando uma hora de ônibus. Imagine o que é passar quase duas horas do seu dia apenas para ir para o campus de Itaperi, onde o congresso estava sendo realizado? Os ônibus rodavam muito. Se não fosse amigo Con a falar de planos para o futuro e Brenno a me dar dicas literárias no trajeto, eu acho que teria tido um treco antes do meio da semana. Ninguém merece andar aquilo tudo para ir a um evento, pessoas!

Além de ser longe, a gente ficou um pouco decepcionado porque havia uma série de requisitos a serem cumpridos para a apresentação de pôster e não houve nenhum tipo de avaliação. No meu caso, o monitor entregou o certificado de apresentação antes da gente abrir o pôster e pendurar – ou seja, não era nem 16h30, hora prevista para começo das atividades.

Eles sequer checaram se as pessoas que estavam junto ao trabalho eram, de fato, os autores. Eles perguntavam: você é o autor? E as pessoas diziam: sim. E se não fossem? Quem iria ouvir o trabalho para comprovar que a pessoa ali presente era, de fato, autor do projeto? Quem iria ver se todos os trabalhos estavam dentro das normas? Esta lacuna acabou abrindo espaço para uma série de falhas. Por exemplo, eu não pude ver alguns trabalhos que achei interessantes na programação porque os autores foram embora assim que receberam os certificados.

Além disso, como havia outras atividades no mesmo horário da sessão de pôsteres, o público era basicamente quem estava apresentando. Então, o que a gente fez foi combinar que todo mundo iria todos os dias para ouvir o trabalho dos colegas que estavam apresentando, e assim a gente conheceu muita gente legal. Encontrei uma garota que estava fazendo um trabalho ótimo: analisar aspectos editoriais de alguns jornais através da seção de cartas. Outro menino fez uma análise brilhante sobre fé e aspectos mercantis da Comunidade Canção Nova. O povo de Direito Ambiental apareceu com uns trabalhos maravilhosos! Eu fiquei besta! Vi muitos.

OBS – o povo adorou a diagramação do meu pôster. Eu fiz em formato de matéria jornalística, como se fosse uma página de jornal. Um senhor, que era físico, foi ver o meu trabalho porque gostava muito de Pernambuco. Fiquei tão emocionada :)

...e a literatura....

Agora o pessoal de Letras e Literatura foi quem, de fato, roubou nossa atenção. Uma menina aqui de Recife que fez um trabalho lindo sobre o conto “Terça – feira Gorda”, de Caio Fernando Abreu. Troquei umas figurinhas com ela sobre o assunto e foi ótimo saber que mais gente se interessa em estudar a obra dele em Recife. Sem contar um guri, do Rio, que fez um trabalho fascinante usando o conto “Everyday Use”, da Alice Walker. Eu não conhecia a autora – que também escreveu o conhecido A Cor Púrpura (que eu conhecia, mas não sabia que era dela) – e, enquanto escutava caladinha a conversa que ele e Brenno estavam tendo sobre cânones, eu fui me interessando por ela.

Como eu havia dito a Brenno que queria desenferrujar o meu inglês, ele sugeriu que eu lesse o livro. Então, eu encomendei e chega em um mês. Ele chama In Love & Trouble – Stories Of Black Women. Estou doida para ler. Por enquanto, sigo outro conselho de Brenno e estou me agarrando com Samuel Beckett. Fui resgatar o meu exemplar de Endgame, que veio de Porto Alegre, via Livraria Cultura. Li duas páginas e gostei. Devo começar amanhã.

Vou dividir o meu tempinho entre ele e os Morangos Mofados, que deixam pequenas sementes em mim a cada página virada. Caio devia ser lido na escola.Na verdade, a escola devia ser palco de coisas muito boas, como estas que fizeram da última semana, em Fortaleza, um momento especial na minha vida. Apesar das agonias que envolveram o congresso da SBPC, lembranças assim são daquelas que a gente faz de tudo para não esquecer. Que Floripa venha logo, em 2006.

OBS 2 - O título deste post são versos da canção "Avião de Papel", de Ednardo - que, pelo visto, anda sendo a trilha deste blog nas últimas semanas.