Para onde estamos indo?
Hoje a Folha On Line divulgou a nota da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) a respeito dos dois assassinatos cometidos contra indígenas no Rio Grande do Sul e em Roraima este ano. Na nota, o presidente da instituição Artur Nobre Mendes lamenta as mortes e clama por justiça. Justiça esta cada vez mais lenta e, pelo visto, desorganizada. Os acusados pelo crime do idoso Leopoldo Crespo foram liberados após prestarem depoimento por não terem sido pegos em flagrante, embora tenham confessado o crime; e apenas alguns dias depois foram colocados sob tutela policial no Presídio Estadual de Três Passos.
Na delegacia eles alegaram que só queriam “acordar o índio e assustá – lo”. Fico me perguntando como seria a vida humana se todos nós decidíssemos que o ato de acordar as pessoas seria realizado com pontapés e pedradas. Já ouvimos coisa parecida, alguns anos atrás, dos brasilienses que mataram o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, colocando material inflamável em suas vestes e ateando fogo. Estes alegaram que achavam que o índio era na verdade um mendigo – e por ser mendigo deixa de ser humano? - e que só estavam “brincando”. É chocante imaginar que a humanidade esteja vendo seus membros como brinquedinhos de estimação, onde se pode fazer o que se tem vontade, na hora que se tem vontade, com o intuito de se divertir. Se torturar o ser alheio começar a virar opção de lazer, em pouco tempo não sobrará ninguém para contar a estória.
No entanto, o que chama a atenção no caso do Rio Grande do Sul é que um dos garotos que vitimou o índio Leopoldo Crespo, já havia esfaqueado outro índio na véspera da celebração de Natal, levando a indícios de intolerância étnica. O que agravaria ainda mais o caso, pois o Brasil é conhecido mundialmente como um país que tolera as diferenças entre raças, embora saibamos de na prática cotidiana isto é um mito. O outro caso de assassinato, que deu – se em Roraima, com o índio macuxi Aldo da Silva mota, 52 anos, tem indícios de ter sido cometido por interesses de terra. Ele foi chamado para retirar um animal seu de uma fazenda no interior do estado, e desapareceu, sendo encontrado dias depois enterrado em cova rasa.
Eu sei que alguém deve estar se perguntando se a justiça deveria agir de forma mais rápida porque os crimes foram cometidos contra índios. De forma alguma. A justiça brasileira deveria agir rapidamente em qualquer caso, porque antes de ser índio ou branco ou negro ou mestiço ou mulato ou mameluco ou que mistura for, as pessoas vitimadas são seres humanos, como os milhares que morrem todos os dias por meio da violência urbana e rural.
Violência e educação...
Alguns especialistas colocam que uma das formas de reduzir os índices de violência é investindo em educação. Eu concordo, embora acrescente que o problema é muito maior, visto que muitos pais andam delegando suas responsabilidades para as escolas. Mas hoje abri a página do jornal O Povo, de Fortaleza, e encontro a seguinte manchete: 52% dos professores detestam alunos. E em seguida o subtítulo diz:
52% dos professores não gostam dos alunos e 27% dos alunos não gostam dos professores. Esses dados foram revelados em uma pesquisa da Unesco nas escolas públicas e privadas de Fortaleza. A pesquisa aponta ainda que muitos alunos não se gostam e que não vêem sentido nas aulas. Diante dessas informações, educadores começam a repensar o papel da escola.
Vendo a manchete, lendo a matéria e lembrando dos casos citados acima, eu começo a pensar:
*se os índices de violência vêm aumentando enormemente nos últimos anos;
*se os especialistas e setores sociais acreditam que a educação pode ser a alternativa para neutralizar a violência;
*e se esta fonte de neutralização encontra – se na situação descrita pelo jornal cearense,
então, temos todos os motivos para concluir que o caso é bem mais grave do que se supõe, vai além de brigas étnicas, fundiárias e urbanas.