Bienal da UNE: Sexto Dia
COMUNICAÇÃO POPULAR
Hoje no curso de Comunicação e Cultura Popular nós tivemos a oportunidade de criar um programa de rádio, apresentá-lo ao vivo, vê-lo gravado e analisar o resultado final. Como o programa estava sendo feito por mais de dez pessoas, o processo não ficou muito organizado. Mas no final das contas eu fiquei satisfeita com o resultado, porque nós tivemos que construir o programa com escolha de músicas, nome da rádio, nome do programa, falas, ouvintes, vinhetas, entrevistas e serviços em vinte minutos, ou seja, um verdadeiro milagre.
No programa construído, eu estava como repórter de rua. Foi a primeira vez que eu ouvi minha voz gravada em uma mesa de som profissional. Gostei do resultado, porque a dicção ficou legal, o tom da voz, até a respiração ficou bem controlada. Foi uma experiência muito interessante!!!
Mas o melhor de tudo na finalização desta primeira parte da oficina foi a visita de Mestre Salustiano - um maiores mestres na arte de construir e tocar rabeca do País. Durante os quarenta minutos em que esteve conosco, Salu, como é conhecido, discutiu a respeito da valorização da cultura popular no Brasil. Ele diz que, de certa forma, o brasileiro em geral não valoriza a cultura que é produzida nacionalmente. Contou-nos também a respeito das turnês internacionais que executa, onde é sempre recebido como uma grande celebridade e do projeto que desenvolve na Casa da Rabeca junto a crianças carentes, ensinando-as a arte de fazer e tocar rabeca, para que no futuro elas tenham condições de vislumbrar uma oportunidade profissional.
Mestre Salustiano também matou a curiosidade de alguns dos presentes a respeito de sua vida pessoal, relatando que tem quinze filhos, e a filha mais nova possui apenas vinte dias, fruto de sua relação com uma garota de 21 anos que é atualmente sua esposa. Ele tem 57 anos. Nove dos quinze filhos também são artistas como ele, alguns na área de música, outros na área de dança. O fim da conversa foi encerrado com um convite para que nós fossemos ao Forró do Virgulino este final de semana acompanhar um show dele e uma palhinha do mestre cantando e tocando para a turma. Além das fotos e autógrafos que ele gentilmente concedeu a todos os participantes da oficina. Foi uma aula de talento e humildade.
SAÚDE PÚBLICA
A segunda palestra da tarde foi a respeito de saúde pública. O tema enfocaria o SUS e o Programa de Saúde da Família – PSF. Infelizmente, um dos palestrantes faltou ao evento e o debate ficou basicamente restrito a atuação do HEMOPE e algumas pesquisas relacionadas ao programa de doações sanguíneas e a discussão do sistema de saúde como uma empresa.
O interessante é que durante boa parte das intervenções da platéia o pessoal discutiu mais a respeito da posição dos médicos perante os pacientes do que de saúde pública propriamente. Eu tenho uma opinião um pouco forte a respeito disso, porque não só vejo todos os dias pessoas amargando dias em filas de hospitais públicos como já passei mais de uma hora para ser atendida em hospitais particulares, pagando plano de assistência médica caríssimo, porque o médico estava de sobreaviso e ainda não havia chegado.
Logicamente, se compararmos a velocidade de atendimento dos hospitais particulares em relação à maioria dos públicos, este é bem mais veloz nos primeiros. Porém, a um custo extremamente alto. O que de certa forma é um absurdo, porque nós, contribuintes, pagamos duas vezes. Por que o SUS é um direito que todos os cidadãos brasileiros têm por pagarem impostos e justamente por isso que ele deveria ser de ótima qualidade. Mas como o sistema de assistência médica pública, em grande parte do País, está sucateada e se corre o risco de morrer na fila de atendimento, quem pode acaba desembolsando dinheiro extra para pagar os planos de saúde - que cobram um valor altíssimo e ainda impõem restrições aos beneficiários – e quem não pode acaba tendo que se submeter a um sistema deficiente.
É claro que temos que admitir que os profissionais da área de saúde são desvalorizados pelo estado e não são remunerados de acordo com as jornadas de trabalho, e o tipo de trabalho, que executam. Mas é fato que alguns profissionais da área de saúde, que parecem esquecer do juramento que fizeram no ato da formatura, não atendem bem no setor público para puxar os clientes para o setor privado. Digo isso com a convicção de alguém que já teve um parente na UTI de um hospital público por mais de quinze dias, vítima de um acidente de automóvel e que hoje amarga uma recuperação dolorosa por incoerência da equipe médica e ainda teve de escutar de um dos médicos que ele comparecesse a clínica onde trabalhava que lá ele poderia receber um tratamento mais adequado. É decepcionante.
Mas com relação à saúde pública, algo que realmente me interessa saber é em que pé estão os projetos de controle das epidemias de dengue, meningite, entre outras, que pareciam estar caminhando para a erradicação no Brasil, mas voltaram com toda força nos últimos anos. E, claro, com a pergunta que deve permanecer na cabeça de muita gente: como ter saúde em um País sem saneamento básico e com um sistema de tratamento de água deficiente?
A água da Compesa, aqui em Recife mesmo, não condiz com a definição de incolor, inodora e insípida, porque ela tem uma cor meio marrom, tem um cheiro horrível e quando vem transparente, pode deixá-la por um dia parada e bem tampada, que no outro dia o fundo do recipiente vai estar mostrando uma lama preta composta pelos resíduos trazidos pela água através da encanação e que foram decantados. Como ter saúde desta maneira?
DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Outra palestra interessante hoje a tarde disse respeito à questão de democratização dos meios de comunicação. Mas eu falo sobre ela amanhã, porque estou cansadíssima e o assunto necessita ser bem argumentado. Boa noite!