Bienal da UNE: Terceiro Dia
LUAU ESQUISITO
O terceiro dia da Bienal teve uma manhã tranqüila. O pessoal acabou por ficar dormindo em casa ou nos alojamentos, depois de passar a madrugada na Praia de Gaibu em um Luau promovido pela UNE com a presença de Paulo Miklos, Java Roots e outras atrações. Este luau foi extremamente comentado pelo pessoal de Recife como um dos eventos mais esquisitos de toda a Bienal. A praia é linda. Porém, o que ela tem de linda tem de distante.
Muitos recifenses ficaram apenas na vontade. Por que se durante o ano já é difícil pegar o carro – quem tem – para ir a Gaibu. Imagina num domingo, às 20:00, depois de um dia cansativo de Bienal, sabendo que era preciso voltar de madrugada para encarar a maratona de mini-cursos e oficinas na segunda-feira? Impossível. Quem foi, ficou em casa dormindo hoje. Por que segundo informações, o evento que deveria terminar por volta de meia noite encerrou-se durante a madrugada e muita gente chegou em Recife quase de manhã.
ORGANIZAÇÃO? ONDE???
Sinceramente, não sei o que anda acontecendo. Mas parece que a Bienal da UNE está ficando cada vez menos organizada a cada dia. Ontem o Luau, que deveria terminar às 24:00, terminou de madrugada. Durante a manhã, quase ninguém compareceu. No período da tarde, o pessoal parecia querer recuperar o tempo chegando no Centro de Convenções com todo o gás. Ao contrário da organização, que parecia ainda estar dormindo (no ponto).
Os eventos andam testando a tolerância dos participantes com os atrasos. Um dia de meia hora, no dia seguinte de uma hora, e vai aumentando. Hoje, a palestra sobre as Perspectivas do Ensino Superior no Governo Lula, que estava agendada para às 17:00, começou mais de 18:00 e foi marcada por uma série de transtornos.
Inicialmente colocada no Teatro Beberibe, a palestra foi mudada para o Teatro do Brum. Quando todos os interessados se encontravam já derretendo de calor e pressionando a organização para liberar a entrada, que estava completamente tumultuada, foi dado o aviso de que o evento havia sido mudado novamente para o Auditório Tabocas, onde se encontra o Café Literário.
Pronto. Correria pelas escadas. Auditório lotado. Eu e duas amigas dividimos duas cadeiras para as três. De repente, um dos dirigentes pega o microfone e avisa que a palestra O teatro político e sua trajetória no Brasil, que aconteceria originalmente no auditório que estávamos ocupando, havia sido mudada para o Teatro do Brum. Foi a vez dos expectadores desta palestra se irritarem e saírem reclamando. Sobraram alguns lugares, que foram ocupados por quem estava mais perto das cadeiras. Mas uma quantidade considerável de gente sentou no chão ou ficou encostada nas paredes laterais. Lamentável!!!!
E A PALESTRA????
A palestra foi interessante, mas poderia ter rendido mais se os debatedores tivessem priorizado as idéias de mudança neste novo governo sem gastar tanto tempo criticando a administração passada. Cada palestrante gastou, em média, metade do tempo da sua explanação criticando a política fria e privatista do governo FHC. Um sempre acabava repetindo o que o outro havia dito. Foi um teste de paciência, com tamanha redundância.
Apesar disso, houve momentos bem produtivos e eu saí da palestra questionando uma série de coisas. Um destes questionamentos diz respeito ao fato de que não adianta o Ministério da Educação ter toda a boa vontade de conversar e elaborar políticas de reestruturação e expansão do ensino público universitário se o Ministério da Fazenda amarrar o bode na hora de facilitar a verba necessária para este processo de reorganização.
Embora o governo Lula seja um governo de centro-esquerda, a política econômica proposta pela equipe ministerial tem os pés fincados concretamente no conservadorismo. Basta ver as taxas de juros praticadas atualmente e toda a conversa que Palocci vem apresentando nestes primeiros quarenta dias de governo. Um dos palestrantes perguntou: será que é possível haver mudanças em curto prazo na área educacional com o orçamento amarrado pelos compromissos com o mercado e o FMI? Eu me pergunto a mesma coisa. Na verdade, até arrisco um palpite: duvido muito!
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E POLÍTICAS
Hoje, as manifestações culturais e políticas estavam em plena efervescência. Acho que a soneca matutina do pessoal foi produtiva. No fim da tarde havia maracatu e capoeira no hall de entrada, gente circulando com bandeiras do PSTU, da UNE, do PT e outras facções da esquerda. Jornais estudantis eram distribuídos por todos os lugares. Alguns com textos bastante discutíveis, mas que eu não citarei aqui. Senão, escreveria mais uns dez posts.
O pessoal das tendas hippies é que anda trazendo mais artigos lindos e de ótima qualidade para comercializar no hall. Hoje, finalmente, os stands das revistas apareceram. Caros Amigos com as últimas edições e a Carta Capital com 50% de desconto na assinatura. Uma boa pedida! Pena que não vi o pessoal de literatura. A Transamérica anda sorteando CD´s e tocando um som mais comercial. Do lado oposto do Hall, na Praça de Alimentação, as bandas de reggae andam fazendo a festa. Muito bom!
Os grupos mais engajados no movimento estudantil continuam entoando gritos de guerra nas palestras e quem vê jura que o movimento estudantil no Brasil vai de vento em popa. Dá até pra emocionar!!! Em certos momentos eu cheguei até a pensar que aquele oxigênio que eu falei no primeiro post poderia estar realmente rolando na Bienal. Mas umas conversas de bastidores começaram a murchar minhas expectativas de ver o pessoal engajado e lutando para trazer de volta aquele movimento independente e sadio de épocas atrás. Pura Ilusão!
O MOVIMENTO, COMO VAI???
Alguém deve se perguntar o motivo de eu estar repetindo que esperar, neste momento, que o movimento estudantil reaja e tome fôlego é pura ilusão. Coisa simples: durante a palestra sobre as perspectivas educacionais no governo Lula, um dos dirigentes da UNE colocou que há um projeto da OMC – Organização Mundial do Comércio – de estabelecer um acordo que vise a criação de um modelo de ensino padronizado para todos os países do globo.
A UNE é contra este projeto, com toda razão. Porém, continua sem se programar antecipadamente para enfrentar tal decisão. Os relatórios de aprovação ou reprovação do projeto devem ser entregues a OMC pelos países membros no mês de março. A UNE convocou os estudantes hoje para fazer manifestações contra este projeto no mês de entrega das respostas para a organização. Oras, se sabemos desta iniciativa hoje porque deixar para se mobilizar em cima da hora, quando não der mais tempo? Fora que não foi esclarecido em momento algum se a União Nacional dos Estudantes, durante a conversa com Cristovam Buarque, chegou a tratar deste assunto. Eu queria ter perguntando isso durante a palestra. Mas não havia mais vagas para intervenções do público ao fim da explanação dos quatro palestrantes. Acho que vou mandar a pergunta por email...