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quinta-feira, maio 08, 2003

A estrada é longa...

Foram oito dias fora da Veneza Brasileira. Três dias em São Paulo, no CONECOM. Cinco dias dentro de um ônibus. Indo e voltando. Quase não íamos, porque na véspera da partida, soubemos que o dono da empresa de ônibus que nos levaria havia alugado todos os veículos. Depois de uma luta de horas e a possibilidade de pagar mais caro a viagem, tudo foi confirmado com outra empresa. Saímos na noite do dia seguinte e depois de fazer escala em Maceió, Feira de Santana e Vitória da Conquista, finalmente chegamos em Sampa. Quarenta e sete horas de viagem, alguns quilos a menos e muita expectativa em torno das discussões dos próximos dias.

O congresso foi proveitoso, embora eu tenha algumas ressalvas a fazer. Ele foi bom porque as palestras me trouxeram diversas idéias de como trabalhar para melhorar o curso na minha universidade e também de como melhorar como estudante. O contato com estudantes de outras escolas abriu meu leque de visão sobre o ensino de jornalismo no País, sobre o que as outras escolas têm e a nossa não tem, o que nós podemos fazer de forma imediata e o que só pode ser feito com muito esforço, etc. Achei que a melhor parte de tudo foi o intercâmbio de pensamentos. Conheci pessoas brilhantes, gente que fez minha alma despertar como profissional, gente com quem eu realmente gostaria de trabalhar um dia, sabe?

O que eu me deixou um pouco triste de ver foi que muito do que se discutiu nos três dias vem se discutindo há anos e o pessoal sempre termina os painéis com “precisamos criar mecanismos” ou “precisamos trabalhar para mudar”, só que poucas vezes surgem sugestões de como implantar isso de forma prática no cotidiano universitário. Seria legal se, em cada congresso de comunicação, o primeiro dia fosse dedicado a avaliar o que foi posto em prática desde o último encontro e começar os trabalhos a partir do ponto em que se parou. Além de evitar a sensação de que as coisas não estão andando, ajudaria o pessoal novo a se localizar melhor, saber em que patamar estão as coisas. Por sinal, acho que vou discutir melhor isso com meus amigos que foram e depois mandar a sugestão ao pessoal do congresso.

Enquanto isso, no alojamento...

Nós ficamos alojados no centro acadêmico do curso de medicina da USP. O local é imenso. Havia mais de duzentas pessoas em colchonetes, barracas e aquários (como a gente chamou as pequenas salas com portas de vidro). Eu fiquei em um dos aquários com meu amigo Rodrigo e mais sete estudantes da Famecos (RS). O pessoal era muito legal. Conversamos bastante. Eu ri muito com eles e até matei minha saudade de tomar chimarrão. A caneca que eu trouxe de Porto Alegre em 1994 - que eles sempre me corrigiam dizendo “cuia” – acabou virando porta-lápis porque, além de ser difícil encontrar erva apropriada no nordeste, o clima escaldante desta cidade acaba não ajudando muito.

O restante do alojamento era uma festa constante. O pessoal tocava violão, cantava, conversava, circulava, não deixava ninguém dormir berrando “Ninguéeeeeem dormeeeeeeeeee”. Os eventos, que abriram espaço para bandas e grupos de teatro universitários, deveriam começar às 22:00, mas quase sempre iniciavam depois da meia noite. Dei uma passada no primeiro dia, apenas. Os outros dias preferi ficar conversando com meus colegas de quarto ou o pessoal da faculdade. Mesmo assim, ninguém conseguia dormir menos de 03:00. Eu consegui ser brava o suficiente para acordar cedo os três dias, encarar a fila do chuveiro gelado (estava 15 graus em São Paulo, para uma nordestina isso é quase o Pólo Norte), comer os biscoitos da Nestlé que foram servidos como café da manhã e assistir todos os painéis matinais. Apenas no domingo é que me dei ao luxo de acordar às 09:00, porque havia dormido sete horas nos três dias de evento e estava demolida.

Senti saudades do alojamento quando tivemos que sair. Certamente passaria um bom tempo lá. Apenas me arrependo de não ter fixado melhor os laços de amizade com algumas pessoas, porque o tempo foi curto e havia muita coisa a ser feita. Mas eu tentei, pelo menos, pegar os e-mails das pessoas que eu curti, e vamos ver se ao longo do tempo eu consigo conversar melhor com elas. Estava realmente precisando destes espaços de socialização.

Alguma coisa acontece no meu coração...

São Paulo continua agitada como sempre. Nada mudou muito desde que eu pisei lá pela última vez, em 2001. Apenas achei a cidade mais limpa e mais bonita. No começo foi complicado juntar as direções. Mas com algumas horas na cidade eu me achei completamente. Ficamos bem perto da Avenida Paulista, para a minha total felicidade. Não pude sair muito por causa do congresso, mas sábado, no fim da tarde, eu fui com Rodrigo até o Centro Cultural Itaú ver uma exposição de arte nacional que englobava pinturas, esculturas, literatura, vídeo e música da década de 1930 até 2003. Foi maravilhoso porque pude ver muita coisa que não tinha conhecimento, como por exemplo, um clube de gravuras criado pelo Carlos Scliar (ele é pai do Moacyr Scliar?) que acabou tendo repercussão e gerando filiais em diversas cidades, inclusive Recife. Achei muito legal ver trabalhos que o pessoal daqui desenvolveu...

Fugi dois dias, na hora do almoço, para ver dois amigos. Na sexta fui ver Marcelo Toledo, com quem tive uma conversa muito esclarecedora sobre assessoria de imprensa. No sábado conheci meu chefinho do Rabisco, Marcel Nadale, Rodrigo foi junto comigo e foi muito bom. Fiquei sabendo que meus dois chefinhos, Marcio e Marcel, são mais novos e que eu e o Marcelo somos os velhinhos do Rabisco. Chapei! Não deu para ver todo mundo que eu queria. Alguns porque não encontrei em casa, outros porque não puderam ir até onde eu estava, outros porque os telefones acabaram ficando em Recife. Mas eu quero voltar, eu preciso voltar, e ver todas as pessoas que conviveram comigo durante os últimos anos via web e me ajudaram muito e eu ainda não pude encontrar.

Mas o melhor de tudo foi fazer o que eu mais adorava em São Paulo: andar de metrô. Rodrigo, coitado, quase morre de tédio, quando eu sugeri ir da República até a Avenida Paulista de metrô. Pegar três conexões. Muito bom. Adoro andar de metrô, me dá uma sensação de rapidez nas coisas. Se não fosse tão longe o metrô de onde moro aqui em Recife, pegaria todo dia para ir para a aula. Um dia ainda pego metrô no Japão ou aquele que passa por baixo do oceano na Europa. Bote fé!

A única coisa triste da viagem é que a fila no Ibirapuera estava tão grande que não deu para ver a exposição dos chineses e como nossa viagem foi antecipada em algumas horas também não deu para ver o show dos Paralamas, no Pacaembu. Fica para a próxima...

Seu Marcos também é cultura...

Seu Marcos é o nome de um dos motoristas que nos guiaram nesta viagem. Gente, ele é um poço de conhecimento. Durante toda a viagem, ele apresentou as cidades pra gente, deu dados sobre as cidades, contou fatos históricos e geográficos e deixou todo mundo de queixo caído. Eu, particularmente, aprendi muito com ele. No último dia de viagem ele adoeceu. Ficamos preocupados. O pessoal tentou conseguir remédio, mas ele é alérgico como eu. O outro motorista precisou dirigir sozinho e por isso paramos mais, mas ficou tudo bem. Na despedida, dei um abraço nele e agradeci de coração a oportunidade de viajar com alguém tão simples e tão sábio, alguém que nos fez sentir bem, que cuidou da gente de verdade durante todo o caminho. Se eu pudesse, faria todas as viagens com a empresa dele daqui pra frente...

De volta pra casa...

Apesar da tristeza da despedida. Voltar para casa é sempre bom. A viagem foi muito tumultuada. Além da bagunça normal dentro do ônibus, que faz com que a gente não consiga dormir e acabe ficando um bagaço, ainda tivemos dois incidentes no caminho. Um deles foi uma lombada que danificou uma peça no fundo do ônibus e o pessoal passou três horas pra resolver – eu não vi tudo porque estava tão cansada que acabei adormecendo. O segundo foi de matar. Estávamos todos ansiosos por chegar em casa, e íamos atravessar a ponte que liga Sergipe a Alagoas quando descobrimos que uma movimentação estava bloqueando a estrada desde dez horas da manhã. Precisamos segurar a frustração e pensar em dormir naqueles pontos de parada para ônibus. Eu já estava deitada no calor da minha cadeira quando a estrada foi liberada. Chegamos em Recife às 06:36 da manhã, 53 horas depois de deixar São Paulo...